Título: A Última Quimera
Editora: Companhia das Letras
Apesar de ser um livro envolvente é, também, muito irritante, porque nos deixa com várias perguntas não respondidas: quem era o narrador? Camila morreu ou não? Ana Miranda, ao optar por ficcionar a figura histórica de Augusto dos Anjos, mistura com elegância biografias, romances e documentos históricos, que juntos, formaram essa quimera ambulante, consequentemente, fica difícil conseguir respostas...
Demorou, mas chegou...
Editora: Companhia das Letras
Este livro conta um pouco sobre quem foi Augusto dos Anjos. Através da narração de um, então, amigo de infância de Augusto, o leitor é jogado na vida de um homem que sofre com a perda do amigo e mergulha nas memórias de sua vida com ele. Esse poeta notável que viveu sem nenhum reconhecimento e, depois de sua morte (1884-1914), tornou-se uma lenda, tem uma história encantadora. Além do mistério do narrador, Ana Miranda consegue, através de muita pesquisa e carinho, trazer para nós um livro envolvente que, sem querer, aumenta o nosso conhecimento sobre esse poeta que viveu sem ver seu trabalho reconhecido.
Augusto dos Anjos foi um poeta livre e verdadeiro, segundo o narrador. Durante sua vida, onde o romantismo, o parnasianismo, o realismo e o simbolismo travavam longas lutas para saber qual escola se consagraria, Augusto não escrevia nada relacionado a elas e, por isso, foi ignorado pela sua época e, só se tornou famoso por todo o país depois de sua morte.
No livro, essa parte importante sobre quem foi Augusto dos Anjos e a sua forma artística, representada pela publicação do Eu (único livro pulicado de Augusto dos Anjos), se passa através de um diálogo entre um professor, aspirante a novo marido de Esther e o nosso narrador, que, garanto, não gostou nada desse visitante misterioso.
Augusto dos Anjos foi um poeta livre e verdadeiro, segundo o narrador. Durante sua vida, onde o romantismo, o parnasianismo, o realismo e o simbolismo travavam longas lutas para saber qual escola se consagraria, Augusto não escrevia nada relacionado a elas e, por isso, foi ignorado pela sua época e, só se tornou famoso por todo o país depois de sua morte.
"- Que grande privilégio; O que o senhor acha, a poesia de Augusto dos Anjos é parnasiana, simbolista, cientificista, romântica?
Irritado com sua pergunta, falo sobre minha teoria de que Augusto jamais representou alguma escola literária." Professor e Narrador, p. 260
"A poesia de Augusto não é simbolista, nem cientificista, nem parnasianista; é feita de carne, de sangue, de ossos, de sopros da morte. (...). Os que se filiam a escolas são mentirosos, e Augusto jamais mentiu. (...). Professava a fé de um monista, vasculhava as maravilhas da vida, os enigmas do universo, a origem das espécies, sentia em si as dores do mundo, o nascimento e o desvanecimento da matéria. Que escola é essa?" Narrador, p. 263
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Apesar de ser um livro envolvente é, também, muito irritante, porque nos deixa com várias perguntas não respondidas: quem era o narrador? Camila morreu ou não? Ana Miranda, ao optar por ficcionar a figura histórica de Augusto dos Anjos, mistura com elegância biografias, romances e documentos históricos, que juntos, formaram essa quimera ambulante, consequentemente, fica difícil conseguir respostas...
E como uma boa quimera, nessa, temos o contraste berrante entre duas pessoas que viviam e trabalhavam na mesma época. Essa obra mostra a diferença entre a realidade de vida entre Olavo Bilac e Augusto dos Anjos, que escreviam com objetivos diferentes, por isso, aquele alcançou um título muito honroso: Príncipe dos Poetas e este teve que sair de sua terra natal, a Paraíba, por não ter meios de viver dignamente e acabou morrendo a quilômetros de distância, em Leopoldina, MG.
"- Pois se quem morreu é o poeta que escreveu esses versos, então não se perdeu grande coisa." Olavo Bilac, p. 14
Em meio a isso, temos a contextualização histórica feita pela autora, nos mostrando a urbanização do Rio de Janeiro, os conflitos ideológicos políticos e a guerra entre os poetas e movimentos na Paraíba de agitação política, movimentos armados nos sertões, cangaceirismo e etc.
E a parte romântica do livro se dá com a descrição do amor do narrador pela mulher de Augusto, Esther. Um amor platônico que nunca foi concretizado, pois o narrador não poderia, jamais, trair o amigo dessa forma. Por isso, teve que se contentar com outras mulheres, como meretrizes e jovens que tiveram seus corações arrasados, como Marion.
Para fechar, é um livro muito bem escrito e que merece , com certeza um lugar nas leituras juvenis. Eu gostei muito e você?
"- Ainda destrói sem piedade os corações das mulheres?
- Ah, não fale assim. Sou um outro homem. Eu existo apenas para amar uma mulher, que é a única em meus pensamentos.
(...).
- Eu daria minha vida para ajudá-la, dona Esther." Esther e Narrador, p. 252
"Sinto que Augusto não morreu completamente, pois a única maneira de se morrer completamente é ser esquecido e ele permanece na mente de muitas pessoas." Narrador, p. 108
"A poesia não mente, um porta mórbido é necessariamente uma alma patológica; hoje todos aspiram a possuí-la. Não quereriam, se soubessem que dores remendas causava em Augusto. Ele sentia agulhas, alfinetes, pregos enterrados em seus olhos; e uma sensação de esmagamento no corpo. Era o peso de sua alma, que o mortificava." Narrador, p. 125
Demorou, mas chegou...
Parabéns!! Achei suas colocações muito plausíveis e interessantes. O capricho presente no blog também faz com que o interesse seja despertado. Muito bom mesmo.
ResponderExcluirMuito obrigada, Samira. Que bom que você gostou e se interessou pelo livro. É gratificante saber disso ^^
ExcluirQUE LINDO ESSE POEMA!!!!!!
ResponderExcluirEu também adoro esse poema!
ExcluirAmo Augusto dos Anjos. para mim um dos melhores poetas em língua portuguesa.Tomei conhecimento do livro em 1970, quando ainda estava na faculdade.Ele tem coisas maravilhosas, tais como Soneto (em memória do filho morto), Versos a um Cão, Debaixo do Tamarindo,O morcego (lindo demais),Monólogo de uma Sombra... Bem tem tanta coisa, que não cabe aqui.
ResponderExcluirEu conheci o autor por motivos escolares somente. Mas é sempre bom ir atrás e saber sobre o que mais esses autores escreveram. Apesar de não ser o tipo literário favorito dos jovens, todos esses poetas já estiveram na pele de adolescentes e viveram situações parecidas (não diria iguais, pois muitas coisas mudaram), no entanto, há algo imutável na essência humana. E, acredito, muitos desses autores conseguiram identificá-la e imortalizá-las em poemas
Excluirlegal, gostei só preciso ler
ResponderExcluirVá atrás! Não irá se arrepender o/
ExcluirMuito bom.
ResponderExcluirObrigado
De nada (?) hahahaha
ExcluirAdorei a resenha, e eu preciso desse livro para ONTEM! Parece ser aquele livro envolvente que não te deixa desgrudar antes de ler a última página.
ResponderExcluirCom certeza irei ler!
Ahhh meninas, voltei com meu blog, repaginado, com novo nome e layout. Se puderem, vão lá me visitar?? Vou amar!!! rs
Alichel Mortoni
https://livrosgatosenutella.blogspot.com.br
Alichel, espero que você goste mesmo dessa leitura! Depois me conta o que achou desse clássico?
ExcluirIrei visitar, com certeza!
Beijos!
Conheci o livro quando fui prestar o vestibular da minha universidade, a UFPR, mas na época foi muito corrido, e não tive tempo pra ler. Então, certo dia, passando pela Livraria Curitiba, peguei o livro, li algumas páginas e já foi paixão.
ResponderExcluirÉ extremamente interessante ver um poeta tão incógnita como o Augusto sendo retratado da maneira como é, e cogito que seria de grande valia se professores especializados em autores específicos tentassem produzir obras nesse padrão. O aprendizado fica suave e prazeroso.
Há também um jornalista e escritor, Carlos Heitor Cony, que relata sua própria vida, fundindo ficção e realidade; não é uma obra parecida, mas você também acaba conhecendo a vida do autor, e as questões sobre o que é real e o que é imaginário despertam o interesse ao longo da leitura. O nome do livro é Quase Memória. Excelente. Recomento muito.
Até mais ^^
Geovanna, adorei sua visita - muito obrigada
Excluiranotei sua sugestão e estou ansiosa para poder conferir essa obra contemporânea.
acredito que essa seja uma proposta super interessante no cenário educativo que estamos. no entanto, acredito que não faltam propostas desse tipo, mas sim, incentivo para que elas saiam do papel.
Beijos, volte sempre!
Olá,
ResponderExcluirAmei a forma com que explicaram a obra !
Eu li o livro e gostei muito.
Só gostaria de saber se vocês acham que a narração do livro está em 1° pessoa, 3° pessoa ou ponto de vista alternado, em que o usam 1 e 3 pessoa ?
primeira pessoa..é o ponto de vista de um amigo
ExcluirWow! Muito show essa resenha pessoal! :D Colocar trechos do livro ajuda MUITO a compreender a obra ^^
ResponderExcluirexcelente resenha, parabéns
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