Como sabem, curso Letras. E uma das coisas mais incríveis no curso é poder notar meu amadurecimento como leitora. Porque é isso que fazemos: lemos, lemos e relemos, para podermos analisar e escrever a respeito de grandes autores que viveram há duzentos anos. A sobrevivência de certas obras ainda consegue me deixar intrigada. Por que ainda lemos - para citar alguns ainda mais distantes - Odisseia, os contos de fadas, Romeu e Julieta? O que existe nessas histórias que as fazem sobreviver a séculos de desenvolvimento tecnológico e mudanças de estilos narrativos?
Uma boa resposta, com a qual eu me acostumei, é a de que esses livros possuem peculiaridades, temas, personagens, questões, cujas respostas ainda não satisfazem o ser humano. As grandes aventuras mitológicas de Ulisses, os elementos mágicos e trágicos de histórias que conhecemos até hoje, ou então, o amor impossível dos amantes desafortunados, são temas que lidam além da aventura, do maravilhoso ou do amor. Cada obra que sobrevive o faz por conta de dois motivos: em primeiro lugar, por causa da edição de um novo volume; em segundo, por conta da forma como toca seus leitores.
O que pode existir de tema universal na história de um velho carrancudo, então?, você pode estar se perguntando. Admiráveis leitores, Dom Casmurro deve ter a história de amor mais louca que já existiu. E um dos maiores mistérios da literatura brasileira até hoje: Capitu traiu ou não Bentinho? O que nos impressiona no livro de Machado não é a história de seu Dom, mas a forma como ele a narra: a escolha de palavras, a estruturação da narrativa e dos capítulos, até mesmo as personagens secundárias que estão lá refletindo a personalidade do protagonista. Enfim, são esses vários elementos que circundam a história que a faz ser completamente intrigante.