Autor: Émile Faguet
Título original: L'Arte de Lire
Tradução: Adriana Lisboa
Essa será a primeira resenha que faço de um livro que não gostei. Mas isso não significa que o livro seja ruim - que isto fique claro desde o começo. Só porque eu não gostei de um livro, não significa que alguém não possa ter se apaixonado por ele.
Apesar de ser uma leitura cansativa, é um livro intrigante. Exigindo atenção total do começo ao fim,
Émile Faguet lançou conceitos em
1911 - ano da primeira publicação do livro - que são válidos até hoje, quando se trata da tão polêmica arte de ler. Apesar de não concordar totalmente com o que o autor escreveu, por exemplo a rotulação dos leitores somente pelos tipos de livros que leem, devemos considerar a data em que este livro foi escrito e lançado: início do século XX. Então não tem como a diversidade de gêneros que nós temos agora, em pleno século XXI, existisse lá, consequentemente não daria para saber que os leitores de um gênero podem e leem os outros diversos gêneros que existem. Então, provavelmente, pelas poucas escolhas que os leitores tinham, rotulá-los deveria ser comum há 100 anos.
Ao mesmo tempo que a diferença de época é perturbadora por causa dos conceitos antiquados, ela também consegue impressionar, pois mostra como a leitura resiste ao tempo e obstáculo, pois algumas ideias ainda se confirmam. Por exemplo, lá, em 1911, Émile já falava sobre a escola destruindo os jovens leitores, obrigando-os a ler obras que não eram de gosto de muitos. (Pior até, talvez, das que temos que ler no nosso milênio).
Falarei um pouco sobre os capítulos que li, pois pulei alguns que não me interessavam durante a leitura.
Ler devagar
Discorre sobre a importância da leitura calma. Faguet afirma que naquela época já era difícil os leitores acharem tempo para sentar e apreciar a leitura como deveriam, portanto não liam devagar. E se não o fizessem, não conseguiriam suspeitar de tudo o que o autor lhes dizia. Essa, afirma Faguet, é a essência da arte de ler.
“Primeira consequência benéfica da leitura lenta: ela faz a separação, desde o início, entre o livro que se deve ler e o livro que só foi feito para não ser lido.” (p. 11)
Os livros de sentimento
O objetivo principal de um autor que escreve sobre os sentimentos é incitá-los no leitor, levá-lo a crer que tudo o que a personagem passa, sofre, ama e deseja é aquilo que o leitor também, naquele momento, passa, ama e deseja. Há uma ligação entre leitor e personagem que, para mim, deve ser o objetivo final de todos os autores; buscar essa conexão que fará seu livro ser amado ou odiado.
Porém, foi nesse capítulo que Émile expôs suas ideias que me soaram estranhas.
“E, por fim, pode-se perceber com certa frequência, sobretudo entre as mulheres, que um enorme gosto pelas leituras romanescas não passa de uma superfície e que em seu âmago as descobriremos muito realistas e práticas; digo com certa frequência.” (p. 39)
Os escritores obscuros
Aqui, Faguet nos apresenta a um tipo de autor que devemos passar longe: os autores obscuros. Quem são eles? São aqueles autores que lemos e não entendemos; tentamos de novo, sem sucesso; tentamos uma terceira e, mais uma vez, nada. Porém, continuamos procurando significado em suas palavras. Há quem goste deles, mas, na minha opinião, não devemos apoiá-los. Apesar disso, se resolvermos ler esse autor, será como um exercício de português: encontre o tema do textos.
Os maus autores
Nesse capítulo seremos apresentados aos maus autores, ou seja, E.L. James atual - ao menos, foi isso que pareceu para mim. Aqui, Émile culpa basicamente a escola por criar os leitores dos maus autores e aqueles que nunca lerão. Note como essa parte é interessante, pois há 100 já culpavam o sistema de ensino como destruidor de uma geração inteira de leitores.
“Os estudos escolares inspiram para sempre o horror ao belo naqueles que aborreceram. Na verdade, é evidente que eles já o tinham, mas esses estudos como que o desenvolveram violentamente.” (p. 96)
Porém a leitura desses autores seria interessante - do mesmo modo da leitura dos autores obscuros - por ser um exercício; um assunto de crítica literária; e chegando, até, a uma autoavaliação, nesse caso.
Os inimigos da leitura
Apesar dos pesares, é bom saber que há dificuldades presentes na tão bela arte de ler, pois - segundo o autor - isso eliminaria os "falsos amigos da literatura" os deixando longe dos nossos amorecos! Mas quem seriam os tais inimigos de quem ele está falando?
“E isso quer dizer que um dos inimigos da leitura é a própria vida. A vida não é leitora porque não é contemplativa. A ambição, o amor, a avareza, os ódios, (...), tudo o que torna a vida agitada e violenta nos afasta prodigiosamente da própria ideia de ler alguma coisa.” (p. 103)
Porém, Faguet pisa na bola comigo e com todos os leitores de todos os tempos, quando diz que os leitores não possuem paixões. Como assim? Os leitores são os humanos mais apaixonados que podem existir na Terra. Diga-me, quem tem mais ideias? Quem tem mais vontade de realizar um sonho? É capaz de existir pessoas mais motivadas a mudar, que incitem novos ares e melhoras no mundo?
“Ele tinha razão: o homem que lê não tem paixões, essa é sua marca; ele não terá sequer a paixão pelo seu ofício, ainda que tal ofício fosse vender livros.” (p. 104)
A leitura dos críticos
Devemos ler ou não aqueles que não sabem mais o que é o prazer louco de uma leitura que te encanta? Segundo Émile, seria um experiência interessante fazer um processo de leitura seguindo esta ordem: ler os historiadores históricos, ler a obra e, então, ler a crítica sobre ela. Pois quando se lê o trabalho de um crítico, é possível que isso deturpe a visão que você poderá ter em uma primeira leitura.
“O que é um crítico? É um amigo que conversa com você sobre suas leituras, fazendo as mesmas ou tendo feitos as mesmas.” (p. 117)
Reler
Essa sim é uma arte que devemos nos aperfeiçoar, pois ela nos mostra o que absorvemos e o que perdemos na primeira leitura. E Faguet também aconselha que façamos uma releitura depois da leitura do crítico. Imagine que belo resultado sairia da comparação da sua primeira leitura juntamente com a sua releitura tendo com base as ideias de um crítico!
Enfim, foi um livro difícil, porém, com certeza, muito útil para a monografia! E apesar de tudo, tem algo que vale a pena.
“Em latim, legere significar ler e significa o verbo colher. É encantadora, essa língua latina.” (p. 143)
E vocês? Leriam ou não?
Boa Noite!
Olá, Izabela. Te parabenizo pela sua resenha do livro "A arte de Ler". Porém, te questiono se em um dos trechos (pode haver outros) que vc leu não houve algum equívoco na interpretação, principalmente quando vc lamenta que o autor tem afirmado que "...leitores não possuem paixões", e diz inclusive que ele vai contra todos os leitores de todos os tempos. É sabido que as palavras podem comportar variados significados (campo semântico), então certamente o termo "paixão", nesse caso, por extensão de sentido significa outra coisa -- um sentimento forte, martírio, sofrimento. Por exemplo, "Paixão de Cristo", significa martírio, sofrimento de Cristo; "Torcedor apaixonado", é aquele que sofre intensamente pelo seu time de futebol. Enfim, quando Faguet diz que o homem que lê não tem paixões, provavelmente está dizendo que o leitor, quando lê, não sofre de forma exacerbada, não está se martirizando ou fazendo algo totalmente contra a própria razão. Ao contrário, no meu ver ele fala daquele leitor que se sente bem com um livro nas mãos; que faz uma leitura com consciência, e não meramente uma leitura apaixonada. Assim, o bom leitor, por ter adquirido um certo grau de conhecimento, regra geral não será uma pessoa que se deixa levar facilmente pelas paixões, isto é, pelos fanatismos da vida. Nessa perspectiva, concluo que o autor do livro não é contra os leitores, mas um forte defensor dos "bons leitores".
ResponderExcluirBom, vou parando por aqui pra não me prolongar demais. Termino dizendo que o assunto é interessante e pode resultar em um debate construtivo. Gostaria de saber a sua opinião sobre o que expus acima (me mande um e-mail se quiser: balan.sk8@hotmail.com).
Te parabenizo pelo blog.
abç.
me parece um livro muito interessante.
ResponderExcluirHm. Não conhecia o título até um minuto atrás quando li algo a respeito e fui procurar mais. Talvez eu leia ele em algum dia, me parece interessante.
ResponderExcluirQueria muito o livro mas não tem PDF
ResponderExcluircadê em PDF??
ResponderExcluir