Mauricio - A História que Não Está no Gibi

Autor: Mauricio de Souza
Editora: Primeira Pessoa
Páginas: 304
Onde encontrar: AmazonBr | Saraiva | Submarino

| Livro cedido em parceria com a Editora Sextante |

Sinopse: “Ideias mudam o mundo – poucos chavões são tão verdadeiros e inspiradores. Não mudei o mundo nenhuma vez. Mas, à minha maneira, acho que o melhorei um pouquinho ao gerar bons momentos, diversão e entretenimento para milhões de brasileirinhos.
Raros são os autores, no Brasil e no exterior, que podem dizer que foram lidos com o mesmo prazer por avós, filhos e netos. Ou que carregam na bagagem a honra e o privilégio de saber que suas criações, com gibis ou livrinhos agindo como cartilhas informais, ensinaram pelo menos três ou quatro gerações a ler – disparado, meu maior orgulho.
Em última instância, sou um sobrevivente, um homem que começou do nada, realizou seu sonho e não quer desistir dele de jeito nenhum.
Enquanto eu estiver por aqui, saiba que foi você quem sempre alimentou meus sonhos. Depois que eu partir, não se esqueça de que ideias, e também sonhos improváveis, é que movem o mundo. De um jeito ou de outro, sempre estarei com vocês.” Mauricio

Acredito que esta tenha sido a primeira bibliografia que li na vida. E posso dizer que foi uma experiência e tanto! A chance de pode conhecer um pouquinho mais da história do homem que esteve lá quando eu comecei a aprender a ler é sensacional. Eu não sei como foi para vocês, mas Turma da Mônica esteve em todas as viagens de carro, em todas as paradas na banca, em todos os presentes inesperados que ganhei dos meus pais. Um gibi, algo para ler, algo para você se distrair. 

No entanto, nunca me ocorreu que tenha sido difícil para esse homem trazer um gibi até minhas mãos. Eu era um criança e os gibis eram meu mundo (até eu descobrir os livros). Conhecer cada passo desse grande mestre foi uma experiência extremamente divertida e esclarecedora. Pois, além de ele dividir seus mais de 80 anos de história, ele nos conta detalhes a respeito de experiências sobre as quais eu nunca tinha parado para pensar. Vocês sabiam que Mauricio já passou a noite em uma cadeia?!

Vamos à resenha?! 

"Tudo que está na minha biografia é verdade, aconteceu mesmo, ou eu acho que aconteceu."

Como muitos de nós, Mauricio tinha o sonho de trabalhar com aquilo que amava fazer: desenhos. Suas primeira tentativas não foram as mais bem-sucedidas. No entanto, por um acaso do destino, ele conseguiu começar sua carreira no Folha da Manhã (que, mais tarde, tornaria-se o Folha de São Paulo). Uma das maiores autoridades em desenho na época, olhou suas criações e disse: 

"- Desista, menino. Desenho não dá dinheiro nem futuro para ninguém. Vá fazer outra coisa da vida.", p. 11 

Mauricio, porém, não desistiu e seguiu firme em sua crença de que poderia, sim, trabalhar como desenhista em um país cujas tirinhas famosas eram todas internacionais. Afinal, foi um menino do interior que tentou tornar real as promessas de prosperidade da cidade grande. Seus familiares tiveram histórias de vida incríveis, o que - com certeza - criou o brio necessário para seguir escrevendo sobre roubos e sangue e assassinatos; mas principalmente, para seguir correndo atrás de seu sonho. 

Mauricio nasceu em Santa Isabel, no dia 27 de outubro de 1935. Na mesma cidade em que meu pai passou grande parte da sua infância. Não preciso dizer que senti um carinho especial ao conhecer cada vez mais a história do autor de tantas histórias da minha infância. Depois de sua irmã nascer, voltaram para Mogi das Cruzes, onde sua avó e bisavô passaram a fazer parte de suas vidas. Formando a pessoa que em seguida viria a criar personagens dos mais diversos e variados tipos. 

"Minha avó também promovia outro tipo de sessão, dessa vez sem religiões ou crenças envolvidas. Nesses momentos, juntava a criançada ao redor de si e começava a narrar um de seus clássicos de terror, tão impróprios quanto fascinantes para meninos e meninas que mal sabiam se vestir sozinhos. na hora de voltar para casa a pé, eu vigiava o céu e aguçava os ouvidos, morrendo de medo, mas a sensação era maravilhosa ", p. 21

Com esse livro, além de descobrirmos tudo o que é possível saber a respeito do homem por trás de Mônica, Cebolinha, Magali, Cascão, Penadinho, Chico Bento, Do Contra e (mais de 400) tantos outros, veremos também os momentos de inspiração, os pequenos episódios que formaram o homem e o escritor e desenhista. De onde surgiram as ideias para os personagens, quem são as pessoas reais por trás das inspirações para personagens icônicos de nossa infância. 

Quais fornam as maiores dificuldades e os maiores obstáculos. Em quais momentos ele pensou em desistir de tudo. Começou a trabalhar aos seis anos de idade, por incentivo e maquinações de seu pai. "Aquilo era exploração. Eu podia ser pequeno, mas não era bobo.", p. 24 Como um menino cresce e conhece o papa, o Imperador do Japão? Como recebe o título de professor honoris causa sem nem mesmo ter terminado o Ensino Fundamental? É uma história de vida e tanto, não?

O desafio de escrever e de ser lido em um país desse tamanho, num tempo em que a tecnologia toma conta de tudo não parecer amedrontar Mauricio. "Muita coisa deu errado. Mas muita coisa deu certo. O único jeito de descobrir é tentando.", p. 294

"Longe das capitais, veiculadas em pequenos jornais do interior, [as tirinhas] ainda são uma importante orta de entrada no mundo da leitura para muitos brasileirinhos.
Além disso, resta o fato de que, publicada em papel ou exibida em celulares, tirinha é diversão garantida, rápida e fácil. que só precisa de dois out três segundo para despertar um sorriso.", p. 286

As diversas ramificações que vemos a respeito da Turma da Mônica são resultado de um "Por que não?" que Mauricio passou a ligar com suas personagens. Ele, muito apegado a suas criações, cede os direitos de imagens para que parques, restaurantes, graphic novels e outros tantos outros trabalhos vejam a luz do dia.

"O filósofo Aristóteles dizia que a potência que não se transforma em ato se encerra na sua inutilidade de nada ser. Jeito bonito de dizer que não dá para ser feliz se você tem uma ideia, um projeto ou sonho e não vai atrás, deixando as oportunidades se esvaírem.", p. 294 

E o que falar a respeito dessa edição? Primeira Pessoa, selo da Editora Sextante, responsável pela publicação de "histórias de brasileiros que contribuem para o crescimento da cidadania no Brasil e no mundo, dedicado a obras de não-ficção" fez um trabalho genial. A capa é maravilhosa (os quadrinhos dentro da segunda e terceira capas são quadrinhos antigos - um capricho adorável!). A titulação dos capítulos lembra muito o espírito jovial de Maurício; são episódios curtos, porém repletos da história que nos foi prometida. Além disso: temos páginas brancas, com fotos impressas em qualidade incrível nos mostrando a vida do pai de personagens que tanto amamos. De uma forma geral, uma bela edição, a qual guardarei com muito carinho!

Hoje, a exatamente cinco dias de seu aniversário - 82 anos do mestre Mauricio de Souza -, gostaria de deixar registrada minha admiração por esse homem que nunca desistiu. E dizer que conhecer sua história de vida foi, sim, uma inspiração. Obrigada por todos os seus desenhos.

Apesar de nunca ter sido movido pela ambição de prêmios, títulos, medalhas e dinheiro, tudo isso veio até esse desenhista - que nunca desistiu de seu sonho, apesar de todas as dificuldades de sua vida. Este, senhora e senhores, meninos e meninas, é um ótimo livro! Então, assim que tiverem a oportunidade, saibam que lerão uma história impressionante.

"Depois que eu partir, não se esqueça de que ideia, e também sonhos improváveis, é que movem o mundo. De um jeito ou de outro, sempre estarei com vocês.", p. 300