#Mês do Halloween: Entrevista com Ilana Casoy

Ilana Casoy e os dois livros publicados pela DarkSide® Books - Foto: Divulgação

O principal objetivo do blog Livros: Ontem, Hoje e Sempre é sempre trazer informação com qualidade atrelada a resenhas e novidades que envolvam o universo literário e também nossas vidas diárias. Pensando nisso e no clima macabro que desejamos trazer neste mês de outubro, com a ajuda da editora DarkSide® Books, nós entrevistamos Ilana Casoy.

Ilana Casoy é uma pesquisadora e escritora na área de violência e criminalidade, formada em Administração pela Fundação Getúlio Vargas e Especialista em Criminologia pelo Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM). Também faz parte do Núcleo de Antropologia do Direito da USP – NADIR e é Membro Consultivo da Comissão de Política Criminal e Penitenciária da OAB-SP.  Por conta de sua especialização, já colaborou com a Polícia Civil e/ou Técnico Científica, Ministério Público e Advogados de Defesa de São Paulo e de outros estados para ajudar na elaboração da análise criminal de casos em andamento.

Hoje, a brasileira tem quatro livros publicados: Serial Killers – Louco ou Cruel? e Serial Killers – Made in Brazil, publicados pela DarkSide® Books; o Quinto Mandamento – Caso de Polícia (sobre o assassinato do casal Richthofen), lançado pela Ediouro; e A Prova é a Testemunha (relato inédito do Caso Nardoni) – publicado pela Larousse. Ilana também foi a primeira especialista sobre o assunto de serial killers no Brasil. Você pode conferir abaixo nosso bate-papo.

O box Serial Killers está disponível apenas no site Submarino - Foto: Divulgação

Livros Ontem Hoje e Sempre: Você se formou em administração, como foi parar na criminologia? E qual foi a reação da sua família quando fez essa mudança drástica na carreira?
Ilana Casoy: Eu me formei em administração, mas fui há muito tempo. Não foi uma decisão drástica, mas como um caminho. A vida leva eu, sabe? Foi uma coisa suave. Depois do livro fiz pós em criminologia, mais como uma formalização. Já faz mais de 15 anos que trabalho com isso. Hoje meu filho mais novo é advogado criminalista. Tudo influencia.

LOHS: Como surgiu seu interesse por serial killers? 
Ilana Casoy: Desde sempre leio Agatha Christie [autora de destaque no gênero de romance policial], sobre casos policiais em jornais, me mantenho informada. Dizem que a gente decide escrever sobre o que gosta. No meu caso era sobre grandes investigações. Queria entender e uma coisa levou a outra.

LOHS: Qual a diferença dos serial killers que conhecemos nos EUA e os que conhecemos no Brasil?
Ilana Casoy: A diferença é o local, é que a polícia de lá detecta. O ‘Monstro da Vila Alba’ não era sequer procurado [o assassino em questão confessou seis assassinatos, mas a polícia ainda investiga 30 desaparecimentos]. Também tem uma diferença cultural, o imaginário depende da cultura inserida. Por exemplo, se encontramos uma figa aqui no Brasil sabemos que é um símbolo de proteção, mas no EUA não significa nada. Mas em todos lugares tem a simbologia.

LOHS: Por que a polícia brasileira não consegue detectar os serial killers nacionais?
Ilana Casoy: Falta investimento. O EUA tem um banco de dados que reúne todos os criminosos de todos os estados, a polícia aqui não tem isso. Falta cursos de extensão. Já assistiu a série Criminal Minds?
LOHS: Sim! Adoro! 
Ilana Casoy: Então. Eles têm uma equipe permanente com toda aquela tecnologia à disposição para cuidar apenas de casos assim.
LOHS: O que nos falta então é um Criminal Minds brasileiro.
Ilana Casoy: Exatamente.

LOHS: Você entrevistou serial killers pessoalmente para escrever os livros. Como foi essa experiência? Se surpreendeu?
Ilana Casoy: No começo achei que não seria necessário entrevistar ninguém porque o processo já traz todas as informações, mas depois vi que teria sim para saber o que não estava no processo. E o que não está no processo é a pessoa. Me surpreendi sim porque são pessoas muito normais, muito humanos. Eles têm mãe, pai, filho, irmão, trabalham como qualquer um, mas matam. Ninguém desconfia deles porque eles aparentam ser pessoas comuns.

LOHS: Quando uma pessoa se aprofunda no estudo sobre determinado assunto, o vê constantemente no mundo ao seu redor. Você costuma procurar por sinais de serial killers nas pessoas que vem a conhecer? 
Ilana Casoy: Nunca. Mesmo porque não tem sinais para procurar, eles parecem pessoas normais.

LOHS: Imagino que lidar com crimes horrendos seja uma carga pesada. Isso te afeta muito? Como faz para se manter bem?
Ilana Casoy: Sou uma pessoa fascinada pela vida, super bem-humorada e faço análise. Às vezes me afeta muito, mas eu adquiri uma capacidade de me recuperar mais rapidamente. Sempre afeta e nem quero que deixe de afetar, não quero ficar protegida disso. 

LOHS: O seu livro Arquivos Serial Killers: MADE IN BRAZIL foi a primeira obra a tratar desse assunto no país. Acredita que nesses cinco anos houve um crescimento de serial killers no Brasil ou foi um aumento de conhecimento sobre o assunto?
Ilana Casoy: Foi um crescimento de conhecimento mesmo, também houve um aumento de crimes. Mas agora reconhecemos os casos que já foram. É um assunto muito difícil, mas a pesquisa já está iniciada. Uma pena que não tenham outras obras que tratam sobre esse assunto. Eu gostaria muito que tivesse.

LOHS: Os serial killers brasileiros atacam mais mulheres e crianças, acredita que a cultura do machismo facilita isso?
Ilana Casoy: Facilita vários tipos de crime não só esse. Vide a lei Maria da Penha. Mas não são só os serial killers brasileiros, no mundo inteiro eles sempre escolhem os alvos frágeis. Mulheres, crianças, homossexuais, etc. Se estiver inserido em uma cultural matriarcal os alvos mais frágeis são os homens, por isso vai depender da cultura inserida, mas sempre escolhem os alvos mais frágeis.

LOHS: A maioria dos serial killers conhecidos não tiveram uma estrutura familiar adequada durante a infância. Assim, a falta de estrutura acaba sempre no crime?
Ilana Casoy: Claro que não. Mas evidente que para qualquer ser humano, qualquer tipo de trauma terá importância em algum aspecto da vida. Só que um trauma não faz uma pessoa ser um assassino. É sempre multifatorial. 

LOHS: Existe cura para um serial killer? 
Ilana Casoy: Não posso responder porque não é uma doença, é um comportamento criminoso. Se param de matar? O Pedrinho O Matador [com mais de 100 homicídios contabilizados] foi solto e parou de matar. O Monstro do Morumbi [responsável pela morte de mais de 20 mulheres] foi solto em 2004 e não se soube mais dele. Em países que existe a prisão perpétua ou a pena de morte é difícil de saber.

LOHS: Já foi ameaçada alguma vez por conta do seu trabalho?
Ilana Casoy: Já fui. Sempre faço BO [boletim de ocorrência], vou a polícia e tomo todas as atitudes cabíveis. Me amparo de todas as formas que posso. Já participei em investigação da polícia escondida. Também já participei de uma coletiva de imprensa, mas a entrevista só poderia entrar no ar depois que meu avião tivesse decolado. Tinha um que mandava sempre mensagens sobre meus cabelos me chamando de ‘Rapunzel’, cortei o cabelo e resolveu o problema.

LOHS: Você colaborou com a série de TV Dupla Identidade que tem como protagonista um serial killer, inspirado no assassino Ted Bundy. Achou que a produção foi fiel na apresentação de um serial killer?
Ilana Casoy: A Glória [Perez, autora também conhecida por Hilda Furacão, O Clone e Caminho das Índias] fez um trabalho maravilhoso colocou esse assunto na TV aberta. Muito bem amparada. Foi tudo estudado e pensado. Ela é minha amiga há mais de 10 anos por isso a Vera [personagem de uma psicóloga forense especializada em serial killers] tem muito de mim. Para mim, foi maravilhoso porque as pessoas passaram a entender como era um assassino em série. Era um cara lindo, simpático e bacana, mas matava. Ele é mau, mas é uma pessoa normal. Lembrando que apenas 5% dos serial killers têm alguma doença mental. Foi um grande acesso, uma massa de milhões que é muito diferente da literatura e do poder de alcance dos livros. Antes da produção fiz um workshop com toda a equipe, desde o maquiador ao diretor, para que eles compreendessem o que deveria ser retratado. Hoje as pessoas não entendem o que eu faço e eu digo “assistiu Dupla Identidade? Pois eu sou a Vera”.




24 comentários :

  1. Adorei a entrevista ,mas deve ser meio difícil no começo dessa carreira né ,a pessoa não sabe muito bem o que esperar ,mas ela lida bem com isso ,ee sobre os livros dela ,já tinha ouvido falar sobre alguns mas eu nem sabia que a autora era brasileira.

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    1. Oi, Jéssica!

      Fico feliz que tenha gostado da entrevista! :)

      Imagino que a carreira deve ser difícil em todos os momentos porque lidar com a morte nunca é fácil. Ainda mais quando não é por razões naturais. =/

      Mas a Ilana parece ter encontrado um equilíbrio.

      Bjs

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  2. Eu ainda não conhecia o trabalho dela, talvez por não me envolver muito com livros mais pesados, já que sempre fico bastante afetada pelo que leio, ainda mais se for algo ruim. Só que esse algo ruim acontece de verdade, não é? Não dá para simplesmente fugir disso. Acho que essa entrevista acabou abrindo uma portinha aqui na minha cabeça.

    Eu marquei o LOHS em uma tag lá no meu blog, dá uma passada por lá depois :)
    Beijos

    http://sobrecontarhistorias.blogspot.com.br/

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    1. Oi, Fernanda!

      Eu também me afeto muito com as histórias mais pesadas. Fico com tudo na mente por dias e dias. É muito difícil ler certos assuntos.
      Mas infelizmente não podemos fugir mesmo porque é nossa realidade. :(

      E obrigada por avisar da tag! Vamos dar uma olhada com certeza! ;)

      Bjs!!

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  3. Li Serial Killers: Loucos ou Cruéis quando estava na faculdade, para o meu TCC, e preciso ler o outro livro da autora.
    O problema é exatamente esse: falta investimento. Pensa que no Brasil até mesmo as perícias mais básicas demoram para ser realizadas, isso quando são feitas. Detectar a ação de um serial killer é uma tarefa que nossa policia, infelizmente, nao esta preparada.
    Não sabia que ela tinha colaborado com Dupla Identidade. Agora fiquei com vontade de assistir.
    Parabéns pela excelente entrevista.
    Abraço,
    Alê
    www.alemdacontracapa.blogspot.com

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    1. Oi, Alê

      O seu TCC deve ter sido muito interessante! Posso perguntar o que fez?
      Não imaginaria alguém lendo sobre serial killers para isso.
      Embora aprove completamente a divulgação desse tipo de conhecimento no país.

      E infelizmente essa é a verdade atual do país. Uma polícia sem preparo, sem tecnologias e sem investimento. Nem tudo que deveria ser feito ocorre porque não os investigadores não têm tudo à mão para realizar os processos.

      Pois eu também me surpreendi quando descobri essa informação! Mas ela adorou o seriado e minha irmã também. Acabei não assistindo porque passava muito tarde e tenho que levantar de madrugada todo dia, então é complicado ver qualquer coisa na TV depois das 23h. Mas também fiquei curiosa sobre a série!

      E obrigada! Fico muito feliz que tenha gostado da entrevista! :)

      Bjos!!

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  4. conheci o livro dela quanto ele estava em divulgação e já esta nos meus desejados. ainda mais que é da editora Darkside que sempre capricha nas ediçoes,
    gostei da entrevista e de conhecer um pouco sobre suas inspirações.

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    1. A DarkSide capricha mesmo! Gosto de todos os designs deles. Os livros são lindos.

      E fico feliz que tenha gostado da entrevista! :)

      Bjs

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  5. Olá! Sei do trabalho maravilhoso que a Dark sempre faz com suas publicações e esse não seria diferente. Confesso que não sabia nada sobre a autora desse livro, mesmo vendo tantos elogios para ela. Adorei saber que sua inspiração foi Agatha Christie e de como é realizado todo o seu relacionamento com os seriais killers.
    Bjs!

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    1. Oi, Ale!

      A editora faz um trabalho muito bom mesmo com todos os livros. Ótimas diagramações!

      Acho que Agatha Christie foi a inspiração de muitos, né? Esse tipo de curiosidade sobre serial killers também é sempre interessante. :)

      Bjs!

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  6. Oi, Carolina!
    Gente, que entrevista legal!
    Acho o tema super interessante (Ainda que meio sombrio) e direto leio sobre o assunto.
    Na verdade, esses dias mesmo pesquisei sobre essa trilogia dela e fiquei super querendo.
    Parece muito bom!
    Não sabia que ela tinha trabalha no Dupla Identidade. Gostei de saber.
    E essas ameaças, que medo! Eu tosaria o cabelo com certeza, hahaha.
    :P

    Beijoooos

    www.casosacasoselivros.com

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    1. Oi, Teca!

      Fico feliz que tenha gostado!
      É um tema bem sombrio sim, mas muito interessante. E casa completamente com nosso mês macabro... Hahahahaha

      Olha que coincidência! Os livros são incríveis mesmo. Primeira obra sobre isso no país.

      Dupla Identidade fez muito sucesso, né? Eu gostaria de poder ter assistido a série toda, mas era tarde demais! xD

      Eu também cortaria o cabelo sem dúvidas!! Hahaha

      Bjs!!

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  7. Nossa bem interessante essa entrevista, ainda não li nenhum livro da autora. Mas me interessei em ler. Que coragem entrevistar serial Killers pessoalmente. Não sabia que tinha um livro com relato do caso Nardone. E achei que bem mais serial Killers tivessem problemas mentais o índice é baixo, a entrevista foi bem informativa.

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    1. Oi, Maria!

      Realmente ela é muito corajosa. A primeira no ramo, mas espero que apareçam outros.

      Também me surpreendi com algumas informações que ela me passou, mas é sempre bom aprender, né?

      Bjs!

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  8. Ainda não li nem um livro da autora Ilana Casoy, mas me interesso pelo livro Serial Killers, achei bem interessante a entrevista e foi bom conhecer um pouco mais sobre a história da autora e os livros.

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    1. Oi, Mari!

      Espero que consiga pegar os livros qualquer dia. :)
      São muito informativos.

      Fico feliz que tenha gostado da entrevista.

      Bjs

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  9. Nunca li nada da autora, mas os títulos e as capas sempre me interessaram, espero lê-los um dia (:

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    1. São muito interessantes mesmo. Espero que consiga lê-los qualquer dia desses.

      Bjs

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  10. acredita que eu ganhei esses livros e até hoje não li? preciso ler urgente, além de ser um assunto que me interessa muito! e mais interessante ainda saber que ela é especialista em criminologia haha

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    1. Oi, Thiago!

      Super acredito nisso! Quem não tem um livro na prateleira parado há um bom tempo?! Hahahaha
      Eu tenho vários xD

      Mas ela tem mais de 15 anos de experiência na área, então é muito conhecimento. Se você gosta do assunto, certeza que não vai se arrepender da leitura!

      Bjs

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  11. Olá!!
    Ilana Casoy é uma mulher muito corajosa.(poderia parar por aqui ja ) rsrs
    Olhe to meio apavorada em ler a entrevista, pense então como eu ficaria se lesse um livro desse, super bacana o trabalho dela mas pra mim não da. Sou apaixonada por terror um de meus gêneros favoritos, mais quando se trata de Serial Killers que sei que são monstros disfarçados de anjos e que podem estar em qualquer lugar isso me apavora, num causa só medo não me causa pavor mesmo. Li a entrevista numa apreensão e quando ela respondeu "sim" , quando perguntada se ja foi ameaçada. Só uma coisa a declarar:
    Ilana Casoy é uma mulher de coragem, eu teria raspado o cabelo feito uma cirurgia plastica e mudado de cidade rsrs
    Bjocas

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    1. Oi, Rose!!

      Concordo plenamente com você! A Ilana é uma mulher muito corajosa. Eu não sei se conseguiria trabalhar com crimes e estudá-los para analisar os perfis de cada assassino.
      Realmente, não é para qualquer um.

      Se fosse ameaçada, também procuraria fazer plástica, mudar de nome e sumir do mapa! Rsrsrs

      É um assunto assustador porque é muito real, né? Faz parte do nosso cotidiano e isso é o que nos assusta mais, na minha opinião.
      O tema é bem complexo, sem dúvidas.
      Mas obrigada por conferir a entrevista até o final! ;)

      Bjs

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  12. E eu jurando que esses livros era de alguma autora internacional, fico feliz em ver algo elogiado e com uma edição extremante bem trabalhada como a Darkside sempre faz, ser do nosso país! Excelente entrevista, e que currículo essa mulher tem hein!? Hahahah um dia eu chego lá, fiquei ainda com mais vontade de ler todos os livros!

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    1. Oi, João!

      É realmente muito difícil de ver esse tipo de material com uma fonte brasileira. A Ilana Casoy é uma pioneira na área e muito corajosa por sinal. Não sei se conseguiria trabalhar com esse assunto. Hahahaha

      Espero que chegue lá sim! Boa sorte!

      Bjs

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