#Mês do Halloween: O Demonologista

Autor: Andrew Pyper
Título original: The Demonologist
Tradução: Cláudia Guimarães
Editora: DarkSide® Books
Páginas: 320
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Sinopse: “A maior astúcia do Diabo é nos convencer de que ele não existe”, escreveu o poeta francês Charles Baudelaire. Já a grande astúcia de Andrew Pyper, autor de O Demonologista (DarkSide® Books, 2015), é fazer até o mais cético dos leitores duvidar de suas certezas. E, se possível, evitar caminhos mal-iluminados.
O personagem que dá título ao best-seller internacional é David Ullman, renomado professor da Universidade de Columbia, especializado na figura literária do Diabo – principalmente na obra-prima de John Milton, Paraíso Perdido. Para David, o Anjo Caído é apenas um ser mitológico.
Ao aceitar um convite para testemunhar um suposto fenômeno sobrenatural em Veneza, David começa a ter motivos pessoais para mudar de opinião. O que seria apenas uma boa desculpa para tirar férias na Itália com sua filha de 12 anos se transforma em uma jornada assustadora aos recantos mais sombrios da alma.
Enquanto corre contra o tempo, David precisa decifrar pistas escondidas no clássico Paraíso Perdido, e usar tudo o que aprendeu para enfrentar O Inominável e salvar sua filha do Inferno.

Me*do (ê) sm. 1. Sentimento de viva inquietação ante a noção de perigo real ou imaginário, de ameaça; pavor, temor. 2. V. receio. 

Dicionário Aurélio 

Ao planejar esse #MêsDoHalloween decidimos abraçar o macabro e enfrentar nossos temores com histórias que deveriam trazer o pior da humanidade e do sobrenatural. Pessoalmente, já sabia que a minha leitura mais difícil seria O Demonologista pelo simples fato de eu acreditar em Deus. E é impossível crer no Senhor e não ter o mesmo sentimento com relação à Satã, quase como o conceito de Yin-yang com duas forças fundamentais opostas coexistindo, tirando o fato da crença que a força de Deus é maior que do Diabo.

Essa fé é muito poderosa. Por ela as pessoas matam, lutam e modificam a história. Ela dá justificativas às questões sem resposta. Faz o intangível ser real e, a partir do momento que está presente no seu cotidiano a influência na forma de pensar e nas ações praticadas é muito mais forte do que nós mesmos imaginamos.

Então, para mim, pegar um livro que conta sobre demônios agindo em seres humanos era algo realmente tenebroso. Mas nunca disse não a um desafio literário e não seria essa a primeira vez. Devo confessar, porém, que depois de uma noite de pesadelos com demônios atrás de mim, mudei o horário da leitura para apenas períodos diurnos. (Hahahaha)

Capa e lombada trabalhadas com efeitos - Foto: Editora DarkSide®

O Demonologista ganhou o prêmio de Melhor Romance do International Thriller Writers Award (2014), vencendo autores renomados como Stephen King. Também entrou em várias listas de melhores livros de 2013 e foi publicado em 14 países. Aqui no Brasil, a DarkSide® é responsável pela publicação da obra e deixa eu dizer para vocês que a edição está simplesmente impecável! Sou apaixonada pelo design e diagramação de muitos livros dessa editora e não tenho uma única queixa nesse sentido. Com capa dura, lombada trabalhada com texturas diferentes, sendo que as pontas da capa e 4ª capa estão com as cores mais claras para dar uma impressão daquele livro antigo e muito usada. E dentro você ainda encontra uma fita preta para marcar páginas, desenhos, símbolos e uma diagramação perfeita.

O livro tem como protagonista o professor da Universidade de Columbia, David Ullman, especialista do poema Paraíso Perdido, de John Milton. Ele tem uma filha de 12 anos, Tess, e está passando por uma grande crise no casamento (sua mulher o trai há mais de 10 meses com um colega de trabalho). Para piorar a situação, o professor descobre que sua melhor amiga, a psicóloga Elaine O'Brien, está morrendo por conta de um câncer em estágio avançado.

Entre tantas tragédias, David recebe uma proposta muito suspeita de uma mulher estranha que paga todas as despesas de uma viagem (de puro luxo, vale a pena dizer) para Veneza, Itália. O que ele deve fazer lá? Simples! É só relatar um fenômeno em um endereço específico. Depois ele estará livre para voltar para casa. O que é esse feito e quem o está contratando não fica claro. Mas, apesar de todos os sinais, ele acha que essa viagem será um momento perfeito para passar algum tempo de qualidade com Tess. Assim, ele aceita a proposta e parte para a Europa.

É em Veneza que ele tem um encontro com um ser possuído que recita trechos da obra prima de Milton e é assim que seu desespero se inicia. Pois nessa cidade, sua amada filha, Tess, cai nas garras de um dos maiores demônios do inferno, um braço direito do próprio Satã, e ele próprio deve seguir as instruções deixadas para ele, que estão sempre relacionadas de alguma forma com o clássico poema Paraíso Perdido.

"Corro para a beirada e a vejo despencar no canal. E com o impacto vêm as palavras que ela sussurrou antes de cair. Sussurradas não em segredo, mas porque ela precisou de todas as suas forças para afastar o outro ser que estava com ela. Uma brecha quando ela estava no comando de sua própria língua, longa o bastante para proferir um apelo. Uma menina, a minha. Pedindo que eu a leve para casa. Encontre-me."

David Ullman, p. 89

David primeiro não entende se tudo faz parte de um delírio por conta do luto ou se é realidade, mas a magia dos demônios é forte e, logo que acredita em sua própria sanidade, entra em uma caçada por várias cidades americanas para encontrar pistas que levem à sua filha antes que acabe o prazo dado pelo ser maléfico e ele a perca para sempre.

"Exceto, que neste caso, não são chagas em todo o corpo ou a perda de meus bois e camelos. É um teste para ver se eu posso ir até o fim em busca de Tess, sem vacilar."
"E como você acha que está indo?"
"O corpo é fraco..."
"...mas o coração é forte."
"Não iria tão longe. Mas ainda bate. É tudo o que eu peço."

David e Elaine, p. 213

Quando peguei esse livro esperava por cabeças girando 360º, corpos voando e poderes paranormais assustando a vida para fora de mim. Mas, graças a Deus, essa história tem um suspense muito mais psicológico com alto teor de filosofia. Você não sabe se Tess está viva ou morta; se David irá salvá-la ou se juntar a ela no inferno; se as visões de David (que é o narrador da história) são verdadeiras; quem está certo e quem está errado. O professor também não faz ideia sobre o que o espera no fim dessa trajetória, mas não irá desistir de Tess.

Para mim, o amor desse pai para com a filha foi a única qualidade do personagem. Ele consegue ser preconceituoso mesmo em momentos que acha que irá morrer, preferindo estar em outro lugar que em meio à “caipiras”. É um homem que tem grande dificuldade para tomar decisões, estar presente na vida familiar, e simplesmente sair do automático. Por isso, correr atrás do demônio para salvar a filha foi a única decisão efetiva de sua vida.

A salvação de David é ter Elaine (a tal melhor amiga) em sua vida. Praticamente um anjo com uma confiança surpreende no amigo e que também estará presente em muitas situações inexplicáveis e perigosas. Ela será como um ponteiro guiando-o pelo caminho certo para trazer Tess de volta.

Sem dar spoilers, o fim é aberto e foi bom, mas também me deixou confusa de certa forma. Algumas perguntas ficaram sem resposta e acredito que isso seja normal com finais assim, mas continuo não gostando muito.

Com previsão para estreia em novembro de 2016, a história está sendo adaptada para as telinhas por Robert Zemeckis, mesmo diretor de Forrest Gump (1994) e da trilogia De Volta Para o Futuro (1985-1990). Quem vai encarar ler antes de ver o filme?