#Mês do Halloween: Entrevista com o Vampiro - Crônicas Vampirescas #01

Autora: Anne Rice

Título Original: Interview with the Vampire

Série: Crônicas Vampirescas

Tradução: Clarice Lispector

Editora: Rocco

Páginas: 334

Onde encontrar: AmazonBr | Americanas | Submarino | Travessa

Sinopse: Entrevista com o Vampiro, o já clássico livro de Anne Rice, traça o painel de um mundo habitado por seres para quem paixões dilacerantes, mecanismos cruéis de dependência e banhos de sangue são a regra, nunca a exceção. Este romance começa com um jovem repórter entrevistando Louis de Pointe du Lac, nascido em 1766 e transformado em vampiro por Lestat. Louis conta sua história aos ouvidos atentos do repórter, revelando segredos do mundo dos vampiros. O romance de Anne Rice encontrou em Clarice Lispector uma tradutora à altura. Intérprete sensível, Clarice é uma razão a mais para se ler essa narrativa vampiresca em que a fantasia está solta, mas a realidade espreita por trás do gótico, do terror e do rasgadamente romântico.

Gosto de pensar em livros como pessoas vivas. Tem aquele cara que você se apaixona à primeira vista de tão lindo que é, mas ao abrir a boca faz você se perguntar se foi um desperdício de tempo da sua vida. Também tem aquela moça da sala de aula que nunca havia tido a preocupação de conhecê-la, mas eis que o destino a coloca do seu lado e depois de uma rica conversa você se recrimina por ter demorado tanto tempo para falar com ela. Na minha simples opinião, os livros têm o poder de nos afetar da mesma forma que um amigo ou um amante, mas, assim como os seres racionais, cada edição traz uma complexidade diferente.

Eu fui completamente tragada para esse universo distinto, complexo e macabro criado por Anne Rice. Sinto em dizer que não creio que esta resenha seja digna do clássico da autora, pois não tenho certeza de que minha singela mente conseguiu absorver este livro em sua totalidade. Mas prometo a vocês fazer o melhor possível dentro de minha capacidade.

Entrevista com o Vampiro foi o primeiro livro lançado pela autora em 1976, dando início à coleção Crônica Vampirescas, que viria a ser um dos maiores sucessos do gênero. Mais um ponto interessante para nós (brasileiros) é que essa obra foi traduzida por ninguém menos que Clarice Lispector! Anne Rice ganhou uma cúmplice com uma capacidade intelectual tão profunda que só enriqueceu a tradução do original.

Em 1994, a história chegou aos cinemas contando com uma equipe de peso com Tom Cruise interpretando Lestat de Lioncourt, Brad Pitt como Louis de Pointe du Lac, Antonio Banderas como Armand, Kirsten Dunst como Cláudia e Christian Slater como Daniel Molloy (o repórter). Nem preciso comentar sobre o filme, né?! Para quem não viu ainda, deixo um gostinho com o trailer abaixo.

O livro todo é narrado por Louis de Pointe du Lac, um vampiro com mais de 200 anos, que se encontra com um jovem repórter para gravar uma entrevista. Louis conta a história de sua vida, desde o breve período como um ser humano, passando pela transformação de vampiro até chegar à noite atual, na qual é entrevistado. E é pelo ponto de vista deste ser que iremos enxergar um enredo incrivelmente romântico e macabro.

Louis enquanto humano desejava a morte. Ele se culpava pelo destino do irmão mais novo e todas as suas ações são uma tentativa de acabar com o sofrimento da única maneira que poderia imaginar: morrendo. Mas então o vampiro Lestat entra em sua vida e o transforma em uma criatura sobrenatural que se alimenta de sangue.

Toda esta confusão havia transcorrido num verdadeiro vendaval e só agora, sob aquela estranha forma de vampiro, sentia uma profunda tristeza. Mas não fiquei me lastimando por isso. Não quero que tenha esta impressão, pois lastimar-me teria sido o mais terrível dos desperdícios. Em lugar disso, olhei à minha volta, para todos os mortais que conhecia, e percebi que todas as vidas eram preciosas, condenando todas as culpas e paixões inúteis que escapavam por entre os dedos como grãos de areia.

Louis, p.  43

Ao se transformar em vampiro, Louis acredita estar amaldiçoado e começa a perceber detalhes, observar vidas humanas e criar questionamentos sobre relacionamentos, sentimentos e a própria essência da vida. Ele é o único de sua espécie que sente compaixão por suas vítimas com a mesma intensidade que as deseja e sua falta de conhecimento sobre o ser que se tornou o distancia de seu criador, Lestat.

Lestat é um vampiro que, ao longo dos anos e no decorrer da série, ganhou milhões de fãs com uma figura alucinante. Ele tem seu próprio livro, O Vampiro Lestat (aguardem a resenha para um futuro próximo!), que é o segundo da série Crônicas Vampirescas - publicado em 1985 -, e faz homens e mulheres se apaixonarem por seu charme encantador e sádico. Para manter Louis próximo, Lestat não se importará com as consequências e é assim que surge uma das melhores personagens que já tive o prazer de conhecer: a vampira Cláudia.

Cláudia era uma garotinha pobre, chorando sob o corpo da mãe morta, quando Louis a encontra. E a atração que o vampiro sente pela menina é tão forte que, mesmo sentindo tristeza pela situação em que se encontrava, ele não hesita em cravar seus dentes afiados no delicado pescoço da criança e suga seu sangue até quase matá-la. Mas Lestat interfere na história e encontra a solução perfeita para manter Louis de seu lado. Ele irá transformar a menina e ela se tornará a filha dos dois (Lestat e Louis) – por um tempo pelo menos.

Cláudia está e sempre estará presa em um corpo infantil, independente de quantos anos passem. Imagine quão desolador isso deve ser. Ela amadurece, mas seu corpo nunca mudará e isso gera ressentimentos e mágoas com uma intensidade maior do que nós, simples humanos, poderemos compreender.

Esse relacionamento distorcido entre três personalidades imortais é o ponto alto do livro (que é dividido em quatro partes) e tem forte influência no trajeto pessoal de cada personagem. É um exemplo de como nossos relacionamentos e escolhas mudam nós mesmos e nossa própria história, afetando também na forma como decidimos o futuro.

A grande aventura de nossas vidas. Qual o significado da morte quando se pode viver até o fim do mundo? E o que é "o fim do mundo" além de uma frase, pois quem sabe, ao menos, o que é o mundo?

Louis, p. 144

A Europa é o palco da maior aventura destes protagonistas e, ao se encontrarem com o vampiro Armand e seus seguidores, o destino age de forma trágica e macabra. Como se já estivesse predestinado e ninguém tivesse escolha.

Conhecemos Armand, o vampiro mais velho do mundo conhecido até então, pelos olhos apaixonados de Louis e é muito difícil deixar de se encantar pelo seu charme, apesar dos constantes avisos de Cláudia sobre o perigo de deixá-lo entrar em suas vidas. Ele tem seu próprio livro, O Vampiro Armand, que é o quinto da saga e foi publicado em 1998 (aguardem a resenha!).

Não pude salvá-las. Não pude. Mas eles estarão mortos a seu redor. Se o fogo não os consumir, o sol o fará. Se mesmo assim sobreviverem, então haverá pessoas que virão apagar o fogo e que os encontrarão e os exporão à luz do dia. Mas juro: morrerão como vocês morreram, todos que se escondiam ali nesta manhã morrerão. E estas são as únicas mortes de minha vida que provoquei com satisfação e justiça.

Louis, p. 307

A obra é irresistível. Sua complexidade está na simplicidade da história, dos questionamentos filosóficos e na forma encantadora que te faz pensar e se perguntar sobre tudo e sobre nada. A narrativa, por ser um monólogo, segue um ritmo mais lento, mas mesmo assim tira o seu fôlego em todos os momentos, combinando morte e vida, amor e ódio.

O mundo criado por Anne Rice é uma fantasia impressionante que atrai os leitores de uma forma quase subliminar, na qual não percebemos quão profundamente nos atingiu até olhar para o lado e descobrir que estamos no centro da teia da aranha, cobertos por perguntas sem resposta e sentimentos confusos.

O livro é encantador e profundo, uma daquelas leituras obrigatórias da vida que fará diferença sim . Então, por favor, vá ler e depois venha comentar comigo! ;)