#Mês da Fantasia: Especial - O Hobbit

Se alguém me oferecesse uma única oportunidade de viajar no tempo para qualquer período existente no planeta Terra, eu gostaria de voltar alguns anos e ter a chance de conhecer J. R. R. Tolkien pessoalmente. Ele foi um gênio, um divisor de águas no gênero da fantasia e ainda conseguiu ser um marido e pai amoroso. É aquele exemplo de ser humano que todos nós devíamos ter ou pelo menos encontrar uma vez na vida.  

Em um mês dedicado à fantasia, nós – ou pelo menos eu (Carol) e a Camila – não poderíamos deixar de escrever um pouco mais sobre ele e sua arte. Para isso, escolhemos uma de suas obras mais conhecidas mundialmente: O Hobbit.

C. S. Lewis, autor de As Crônicas de Nárnia, escreveu para o The Times uma resenha sobre a primeira edição de O Hobbit, publicada em 1937, dizendo:

Todos que gostam daquele tipo de livro infantil que pode ser lido e relido por adultos deveriam prestar atenção em uma nova estrela que surgiu nessa constelação. Para os olhos treinados alguns personagens vão parecer quase mitopoéticos [...] Tolkien parece não ter inventado nada. Ele tem estudado a mitologia sobre trolls e dragões e os descreve com aquela fidelidade que vale por oceanos de “originalidade” loquaz.

Trecho retirado de J. R. R. Tolkien – O Senhor da Fantasia, de Michael White

Quem nunca ficou encantado com um filme da Disney que jogue a primeira pedra! Porque existem histórias que foram destinadas às crianças, mas que acabam tornando a nós – os tais adultos – pequenos sonhadores novamente. E isso, meus amigos, é o que acontece com praticamente todas as obras infantis de Tolkien, mas por hora vamos nos deter ao Hobbit.

A Criação

Tolkien foi um homem sensível e apaixonado. Momentos felizes e tristes da família foram as maiores inspirações para a criação de muitas obras. Ele tinha o costume de reunir os filhos (John, Michael, Christopher e futuramente a caçula Priscilla) para contar histórias que inventava do zero e depois recontá-las algumas vezes. O Hobbit começou assim, como mais uma fábula para animar os meninos John, Michael e Christopher (Priscilla ainda não era nascida).

Assim como os antigos contos de fada, Tolkien se baseava em sua imaginação e memória para contar e recontar a mesma história aos filhos, mas seu filho mais novo, Christopher, era deveras crítico com o pai e corrigia repetidamente as incoerências, como o fato da porta de Bilbo Bolseiro ser inicialmente azul e depois se tornar verde.

Um tanto quanto irritado com a sagacidade do garoto, Tolkien começou a tomar notas das histórias que contava às crianças e assim os capítulos foram sendo escritos um a um. Em momento algum o escritor imaginou a possibilidade de publicar o livro, assim como muitos outros que criou, O Hobbit era um livro escrito e desenhado por ele para sua diversão pessoal e das crianças.

Então, quando foi publicado – em 1937 –, Tolkien não imaginou que o sucesso seria tão grande e as críticas tão boas. Acrescento ainda que ele não tinha noção que hoje suas obras seriam consideradas clássicos literários.

A História

Como dito antes, O Hobbit é uma história infantil e, por conta desse aspecto, não há dificuldade alguma na leitura ou na compreensão. É um texto simples, rápido e seco. Até perde um pouco de profundidade nas emoções dos personagens se for comparar com O Senhor dos Anéis, mas de forma alguma é menos carismático. É um clássico que introduz o leitor ao universo da Terra Média de Tolkien e um ótimo ponto de partida para quem nunca leu nenhum livro do mestre.

Para quem não sabe ainda, os hobbits são um povo antigo e muito discreto. São pequenos (não passam de um metro e trinta) e não gostam de aventuras. Os hobbits preferem viver suas vidas calmas e tranquilas nas tocas construídas em regiões campestres cultivando a terra e vivendo dela. Só não estranhe caso nunca tenha visto um hobbit antes porque eles já se acostumaram a fugir dos “homens grandes” e desaparecem antes mesmo que a gente perceba.

O terrível dragão Smaug e Bilbo na edição ilustrada

Mas a história em si tem como foco um hobbit em especial: Bilbo Bolseiro. Com uma vida confortável e sem ambições, Bilbo raramente se aventurava além da adega e da despensa de sua toca, o Bolsão. Só que quando o mago Gandalf apareceu em sua porta, as confusões começaram a aparecer na vida do jovem hobbit.

Gandalf e Bilbo

Durante uma tarde, 13 anões batem à porta de Bilbo e, junto de Gandalf, o convidam para uma jornada perigosa, mas que pode trazer muitas recompensas. Os anões pretendem viajar por terras inimigas para resgatar um antigo tesouro de seus antepassados que foi roubado por um dragão chamado Smaug, também conhecido por Trâgu; O Dourado; O Terrível; e Dragão de Erebor.

Mesmo que inicialmente Bilbo estivesse relutante em participar da aventura, ao longo da jornada, ele descobre amigos que levará para a vida toda, sofre perdas irreparáveis e acaba conhecendo melhor a si mesmo e o que é capaz de fazer.

A divertida história é uma introdução do que virá a ser O Senhor dos Anéis e uma daquelas leituras obrigatórias da vida de um leitor, seja ou não fã de Fantasia.

As Edições

Algumas das Edições de O Hobbit publicadas no Brasil

Sobre as edições do livro lançadas no Brasil através da Editora Martins Fontes, temos uma grande variedade de capas, incluindo a dos três filmes e uma edição de 75 anos em capa dura, lançada em 2012. Para os que buscam algo a mais, temos por aqui também a linda versão ilustrada, com capa em tecido e ilustrações de Jemima Catlin.

Gandalf, Bilbo e Thorin Oakenshield na edição ilustrada

Para quem não teve a oportunidade, lembro-os que o TOP Comentarista irá sortear a edição de aniversário de 75 anos, em capa dura, de O Hobbit. 

Os Filmes

Dividindo o enredo em três partes, os filmes ganharam uma licença poética e acrescentaram personagens e alguns fatos que não estavam na obra original de Tolkien. É uma grande polêmica que os fãs discutem até hoje e, para ser bem sincera, tenho uma opinião ambígua.

Tauriel

Um exemplo é a elfa Tauriel criada pelo cineasta Peter Jackson (responsável também pela adaptação de O Senhor dos Anéis) e pela roteirista cinematográfica Fran Walsh para a trilogia dos filmes. Ela não existe no texto original, mas acredito que se Tolkien criasse a história de O Hobbit depois do nascimento de sua filha Priscilla, ele mesmo teria criado a elfa. Digo isso porque Tolkien foi um homem que defendeu e homenageou as mulheres de sua vida em poemas e histórias. Ele cria princesas guerreiras que lutam melhor que homens e derrotam vilões poderosos e por que não criaria uma elfa guerreira que lidera a Guarda Real da Floresta das Trevas?!

Nos filmes ela foi interpretada pela belíssima Evangeline Lilly (e ela é linda mesmo porque a vimos na Comic Com 2015 e depois na Fnac em SP) que também é fã de Tolkien e soube dar vida a essa personagem feminina forte e lutadora.

Enfim, polêmicas deixadas de lado, os filmes são muito bons – e a versão estendida é melhor ainda. Caso ainda não tenha visto nenhum, por favor, corra para ver!

Deixo aqui um gostinho de cada longa com o trailer de cada uma das três partes:

O Hobbit - Uma Jornada Inesperada (2012)

O Hobbit - A Desolação de Smaug (2013)

O Hobbit - A Batalha dos Cinco Exércitos (2014)

Termino esse especial ouvindo The Last Goodbye, sob a voz de Billy Boyd (que interpretou o jovem Pippin na trilogia O Senhor dos Anéis) e espero ter despertado no coração de cada leitor pelo menos uma das diversas emoções que sinto ao relembrar a fantástica história, os filmes incríveis, suas músicas marcantes e seu autor apaixonado.