Leitura do texto, leitura do mundo




Autor: Domicio Proença Filho
Editora: Anfiteatro
Páginas: 272
Onde encontrar: AmazonBR | Saraiva | Submarino

| Livro cedido em parceria com o Grupo Editorial Rocco
Sinopse: Atual presidente da Academia Brasileira de Letras, o escritor e professor Domício Proença Filho passeia com a segurança dos grandes mestres por temas como linguagem, comunicação, cultura e literatura neste livro que já nasce predestinado a se tornar referência para professores, pesquisadores e estudantes, além do público leigo interessado em conhecer melhor esse vasto universo. Dividido em dez capítulos e repleto de citações e referências de gramáticos e estudiosos da língua e da literatura, assim como de autores célebres dos mais variados estilos e épocas – de Aristóteles a Fernando Pessoa, de Drummond a Chico Buarque –, o livro desperta no leitor o gosto pela leitura e pela literatura, ajudando-o a ler mais e melhor e a ampliar seu entendimento do mundo.
Como muitos de vocês sabem, eu estudo Letras para viver. Essa foi uma escolha lógica considerando o que eu mais amo fazer: ler. A pergunta fundamental que guiou basicamente todas as escolhas que fiz até este ponto da minha vida: o que você quer fazer pelo resto dos seus dias? Bom, eu simplesmente respondi "ler" e aqui estamos. Por conta do meu curso, tenho bastante contato com autores teóricos e críticos literários, afinal, dessa graduação você pode voar longe e ganhar seu espaço como uma acadêmica.
"Viver é compartilhar discursos."


Hoje, falaremos sobre Domicio Proença Filho, professor, escritor e pesquisador. Ocupa a 28º cadeira da Academia Brasileira de Letras há mais de dez anos. E trabalha discutindo conexão entre texto e conhecimento. Quando vi esse livro na News, soube que precisava lê-lo. Minhas suspeitas se tornaram reais quando passei pelos primeiros capítulos e vi neles boa parte do conteúdo dos meus dois primeiros anos da graduação. 

Este livro trata sobre a importância da leitura, a relação que existe entre leitor, obra e escritor, a questão da autoria como testemunho de uma época e dá dicas de como podemos melhorar nossas técnicas de leitura. Porque, acreditem, existem maneiras e maneiras de ler. Temos dez capítulos e eu gostaria de falar um pouco dos cinco primeiros, os quais possuem muito do que vi em minha graduação e deixar aquele gostinho de quero mais para os capítulos restantes.

"Conhecimento, comunicação e linguagem"

O primeiro capítulo trata das razões pelas quais o ser humano deseja saber das coisas. Por que questionamos? Por que sempre querermos mais informações? Uma das razões é nossa curiosidade por descobrir a realidade. Esta, no entanto, pode ser entendida/ interpretada de muitas formas. Tudo dependerá da crença interior daquele que olha para a realidade. Domicio, então, nos oferece cinco formas pelas quais podemos focar a realidade. 
O modo como a realidade ocidental vê o mundo baseia-se nessas cinco modalidades. Ele foca a leitura mítica: de que forma interpretamos as narrativas fantasiosas? O que isso diz sobre os textos? O que isso diz sobre nós, seus leitores? 


"As relações entre o mundo e a interpretação do mundo na cultura ocidental são marcadas por modalidades distintas e descontínuas. Variam as visões de mundo e o predomínio desta ou daquela ideologia, varia a orientação da arte. Emergem novas modelizações e novos paradigmas.", p. 26



Ou seja, nós aprendemos desde cedo qual o tipo de leitura que devemos fazer do texto, dessa forma, do mundo.


"Conhecimento, cultura e comunicação"

Domicio começa aqui a tentar esclarecer o significado da palavra 'cultura', o que não é fácil, já que ela possui mais de 250 aplicações. Nesse capítulo, somos apresentados a diferentes definições e aplicações. A conclusão, no entanto, é a mesma, não importa como a definamos: "Não existe sociedade sem cultura; não há cultura sem sociedade.", p. 29 
Nós conseguimos entender o que o outro está dizendo porque compartilhamos o mesmo repertório cultural. O século XXI exige outros tipos de conhecimentos, o cibernético, por exemplo; o que transforma o conceito de cultura do qual falávamos.



"Linguagem, língua e signo" 


Aqui foi onde encontrei mais tópicos que me lembraram matérias do curso. Discutir o que significa linguagem, língua e signo divide muitos teóricos. Domicio traz considerações de diversos teóricos e as discute com seus leitores. Linguagem é algo maior e mais abstrato, como uma forma comum de expressão entendida por todos, pode ser feita por meio de textos escritos, textos visuais, sons, gestos, expressões. Língua, por sua vez, é mais próximo de nós, afinal a usamos diariamente. Por conta disso, ela é mutável, ou seja, por mais que exista a Forma Padrão, a língua portuguesa, por exemplo, segue o curso daqueles que a falam. Signo, de forma resumida, são palavras que utilizamos em nossa comunicação corrente.

Fato, interessante notar, que já foi motivo para uma revolução em nossa literatura. Os escritores antes do Modernismo registravam suas histórias seguindo a norma padrão da época (por isso muitos exemplos de dicionários são literários); com o Modernismo, uma das primeiras coisas que mudaram foi a aproximação com o público, com o povo. Passa a existir um registro daquela língua, da forma como ela era utilizada pelo povo. Sem o povo, não existe língua; se ninguém a fala, ela morre, deixa de existir.

"O processo linguístico da comunicação"


Outro capítulo cheio de matérias pelas quais todos já passamos, seja no Ensino Média, seja no Superior: elementos e meios pelos quais podemos nos fazer entender, pelos quais podemos transmitir a nossa mensagem: funções da linguagem!, ou seja, o poder de brincarmos com aquilo que queremos dizer. No entanto, existem condições sob as quais essa brincadeira precisa funcionar para que possamos nos entender.
"Para que se efetive a comunicação entre as pessoas é necessário, portanto, o atendimento a determinadas condições: que se estabeleça o contato entre emissor e receptor; que o receptor seja capaz de entender o que lhe está sendo comunicado ou que conheça o contexto extraverbal a que a mensagem se refere; que emissor e receptor dominem o código que está sendo usado na transmissão da mensagem; que a mensagem seja transmitida com clareza.", p. 60
Tudo dependerá do descrito acima. Emissor e receptor devem possuir o mesmo nível de conhecimento para que possam se entender.

Vamos brincar.


"Enunciado, discurso e texto"

"As pessoas só podem comunicar aos outros aquilo que conhecem.
Quanto mais ampliamos nossos saberes, mais nos familiarizamos com as múltiplas interpretações da realidade da vida e maior é o nosso potencial de comunicação.", p. 67
Ou seja!, até agora nos foi ofertada a chance de pesquisarmos e aprofundarmos nossos conhecimentos sobre o processo e as funções comunicativas. Isso garantiria nossa eficiência ao escolhermos palavras, formas e tempos de dizer aquilo que sabemos. Qual a diferença entre uma frase, uma oração e um período? Qual a diferença entre enunciado e frase? Até que ponto nossa língua portuguesa permite que nós a dobremos e inventemos novos significados?

Os capítulos subsequentes (Língua, discurso e estilo", "Literatura, linguagem e língua", "Literatura, leitura e interpretação textual", "Caminhos da leitura" e "Leitura de textos") começarão a tratar de assuntos mais focados na literatura, na arte da escrita e numa melhor maneira para nós lermos o mundo. Compreender textos clássicos e do dia a dia faz parte de nossa função como seres humanos. A arte está aí para tornar tangível algo dentro de nós mesmos. E sermos capaz de interpretarmos tais detalhes é gratificante. O ser humano deseja algo a mais, algo maior que sua própria vida. Por isso temos literatura, música, pitura, espetáculos.

Esse livro, como um manual técnico, como um feixe de luz que ilumina uma das mais belas artes é, com certeza, um manual àqueles interessados em descobrir um pouquinho mais a respeito das partes técnicas e maravilhosamente teóricas da nossa língua. Mais especificamente, do ato de ler. Livro recomendadíssimo!





10 comentários :

  1. Oi Iza, post super interessante assim como parece ser o livro, uma preciosidade pra quem estuda ou pra quem apenas curte a leitura e quer saber um pouco mais das partes técnicas e teóricas da nossa língua. ;)

    ResponderExcluir
  2. Oi Izabela!
    Gostei de conhecer a obra, achei bacana o enredo e fiquei curiosa pra conhecer a escrita tbm.
    Parabéns pela resenha!
    Bjs

    ResponderExcluir
  3. Oi.
    Leitura de peso, em? Eu lia muito esse estilo, quando estava na faculdade. Sempre é uma leitura enriquecedora e inteligente.
    Obrigada pela dica.
    Beijos.

    ResponderExcluir
  4. Achei interessante em melhorar as técnicas de leitura, nem tinha pensado nisso, deve ajudar a compreender melhor certas coisas que temos dificuldades como mencionado textos clássico, leio pouco clássicos devido a isso rs.

    ResponderExcluir
  5. Izabela!
    Deveríamos ter mais livros do gênero, primeiroporque precisamos mesmo aprender a ler de forma mais contextualizada e também, para quem gosta de escrever, porque mosttra as diversas formas de linguagem e que podem atingir diretamente o leitor.
    Gostei muito.
    Bom domingo e feriado!
    “A sabedoria é a única riqueza que os tiranos não podem expropriar.” (Khalil Gibran)
    cheirinhos
    Rudy

    ResponderExcluir
  6. Olá,
    Não conhecia o livro, mas conhecia o autor, li uma tese dele para uma matéria de antropologia (faço Ciências Sociais), e apesar de ter me encantado nesse mundo, me assustei, a questão linguagem , língua e signos é extremamente difícil de entender, principalmente quando trabalhamos a questão da comunicação e formação estrutural junto. Mas pela resenha esse parece ser um livro bem menos complicado e de mais fácil acesso, talvez me esclareça algumas questões. Muito obrigada mesmo pela indicação.

    ResponderExcluir
  7. Adorei o post, não conhecia o livro e me interessei, de verdade. Parabéns pela resenha.
    bjs!

    ResponderExcluir
  8. Oi, Iza!!
    Gostei bastante da resenha achei bem bacana a postagem!! Amei a indicação!!
    Bjoss

    ResponderExcluir
  9. Oi, Izabela!
    É, a capa não chama a atenção e nem tanto a sinopse, mas só quem ama literatura, quem realmente lê, quem estuda o assunto sabe as delícias que é se aprofundar nessa relação livro, mundo, leitores, comunicação...
    Fiz jornalismo, mas tive um pouco de leitura teórica de literatura e gostei muito.
    É legal você ver seu curso nas páginas do livro, prova que a faculdade está fazendo isso certo, hahaha.

    Beijooos

    www.casosacasoselivros.com
    www.livrosdateca.com

    ResponderExcluir
  10. Oi Izabela,
    Achei este livro bem interessante e olha que, geralmente, não me interesso por nada desse gênero. Gosto de ler e de conhecer histórias através de livros, mas os poucos capítulos de Leitura do texto, leitura do mundo que citou me fez parar pensar no ato em si, o que ele representa e o que me faz ansiar por ele. Achei essa resenha diferente e gostei que trouxe uma abordagem diferente.

    ResponderExcluir

Obrigada por fazer três blogueiras felizes, seu comentário e sua opinião são muito importante pra nós! Todas as visitas e comentários serão retribuídos.

(Comentários contendo ofensas e palavras de baixo calão não serão aceitos).

Seguidores

No Instagram @bloglohs

Vem pro Facebook