Underground Airlines

Autor: Ben H. Winters
Título Original: Underground Airlines
Tradução: Ryta Vinagre
Editora: Rocco
Páginas: 320
Onde Encontrar: AmazonBR | Livraria Cultura | Livraria Saraiva


| Livro cedido em parceria com o Grupo Editorial Rocco | 

Sinopse: Autor da trilogia O Último Policial, ganhador dos prêmios Edgar e Philip K. Dick, Ben H. Winters é uma das principais vozes da literatura policial e da ficção científica contemporânea nos EUA. Em Underground Airlines, o autor conta uma história ambientada numa realidade alternativa em que os Estados Unidos não passaram pela guerra civil e os estados de Mississipi, Alabama, Louisiana e Carolina do Sul permanecem separados do norte do país e vivendo de mão de obra escrava. Na trama, Victor é uma espécie de “capitão do mato”, um ex-escravo que trabalha rastreando escravos fugitivos e devolvendo-os a seus donos. Ao mesmo tempo, porém, em que opera a favor do status quo, ele age sob uma agenda própria. A partir desse personagem contraditório e aludindo às “underground railroads”, rotas clandestinas pelas quais os escravos americanos fugiam para o norte abolicionista ou para o Canadá, Underground Airlines é um ótimo entretenimento e também uma provocação à sociedade americana com suas questões raciais, econômicas e políticas.

Olá leitores e leitoras, como estão as férias e as leituras de fim de ano? Nunca é tarde para acrescentar mais um, ou alguns, livros a sua lista de natal ou de leituras para o novo ano que está próximo. Underground Airlines, do americano Ben H. Winters, é um livro que aborda um tema que parece desatualizado, mas que na realidade, é algo muito, muito atual sim. A escravidão. Foi uma leitura bem pesada, já adianto, no sentido de que é impossível ser leve se tratando desta temática. Mas é um livro que nos leva a reflexão, então, vamos a resenha?


No mundo criado pelo autor, vivemos num futuro distópico onde nada mudou muito, além do fato de que a abolição da escravatura nos Estados Unidos, nunca aconteceu. O ato da emancipação, emitido por Lincoln em 1863 e a guerra civil que foi resultado deste ato, nunca aconteceram, pois o presidente fora assassinado. Sendo assim, quatro estados mantém o regime de escravidão até a atualidade, são eles: Louisiana, Mississipi, Alabama e Carolina. São estados que sempre foram conservadores na história real e nessa distopia, eles mantém a mão de obra dos escravos, em um mundo moderno. Pode soar louco de início, mas não difere muito do que ainda acontece em alguns lugares do nosso mundo.



A história gira em torno do protagonista chamado Jim (ou Victor, ou Brother), e ele é um ex-escravo. Seu trabalho agora é atuar como um "capitão do mato", um profissional que age na recaptura de escravos fugitivos, e ele trabalha para o governo, aliado a nossa tecnologia. Ele não convive bem com seu trabalho, vive atormentado, mas ainda precisa prezar pela sua sobrevivência acima de todas as outras vidas em suas mãos. É um dilema vivido fortemente pelo protagonista, em meio ao que é viver em locais onde a escravidão é normal e regularizada. As pessoas brancas se responsabilizam pelos seus escravos e estes são vendidos, negociados e marcados como um mero produto, uma propriedade. A única forma de fugir dessa realidade cruel é cruzar a fronteira em uma fuga bem sucedida e encontrar um grupo de abolicionistas. Afinal, ainda existe sim uma resistência a essa "loucura" e ainda há esperança para este mundo. E é nessa trama cheia de ação e reviravoltas (muitas) que somos imersos pelo autor.

Tudo parece irreal quando se trata de uma distopia não é? Onde estamos acostumados a encarar uma narrativa sobre uma sociedade que sofreu e sofre uma opressão forte do governo, onde existem jogos pela vida, pessoas que são clonadas, venda de órgãos, tecnologia dominadora e tudo o mais. Mas não em Underground Airlines. Com esta leitura, não é possível sentir esse tom de fantasia. Para mim, foi mais um retrato mascarado do que ainda vemos e presenciamos, ainda que de olhos semi fechados, no mundo atual, no nosso mundo. É bem triste mas é algo exposto sutilmente (ou não), pelo autor, e que nos leva a filosofar, refletir, buscar informações e permanecer indignados ao perceber que a escravidão, o racismo, é algo presente no nosso dia a dia, no portal de notícias da internet. O que fica é a esperança por um mundo melhor, tanto no livro quanto na realidade. O desfecho não deixa a desejar, gostei muito.

“Freedman Town serve a um bom propósito – não para as pessoas que moram lá, Deus sabe disso; gente metida ali pela pobreza, pelo preconceito, por leis que as impedem de se mudar ou trabalhar. O Propósito de Freedman Town é para o resto do mundo. Um mundo que fica sentado, como Martha, de óculos escuros, olhando de longe, com medo, porém a salvo. Crie um curral como este, não dê às pessoas alternativa senão viver como animais, e depois as pessoas vão apontar para elas e dizer você vai ver aqueles animais? É o que essa gente é. E essa ideia rola de Freedman Town como fumaça de chaminé, negro passa a significar pobre e pobre, a significar perigo, e todas as palavras se confundem e se transformam em uma ideia obscura, uma nuvem de fumaça, os vapores de chaminé vagando como ar poluído pelo resto do país.”

Particularmente, o livro me supreendeu em alguns pontos. Achei que mesmo a história sendo relativamente simples, foi mesmo para chocar. Foi intencional. O personagem é interessante, a trama me envolveu, me emocionou de certa forma e achei um bom livro. Poderia ser melhor em alguns aspectos, para mim, mas acredito ser características que cada leitor opinará por si próprio. Nada que sacrifique a qualidade do livro e da narrativa. Underground Airlines fez muito sucesso nos Estados Unidos este ano, e não é para menos, pois faz parte de sua história, e achei bem abordado e escrito. Recomendo sim para quem gosta de leituras com tons realistas, mesmo que dentro da distopia. E que gostem de refletir sobre o quanto ainda vivemos em retrocesso, e que precisamos muito avançar em diversas questões, como ser humano.



Curiosidade: O titulo do livro faz uma apologia a Underground Railroads, que foi uma rota de fuga utilizada pelos escravos nos Estados Unidos.

Os Gifs e imagens que utilizei são do filme "12 Anos de Escravidão", um filme excelente e que recomendo muito. Tem no Netflix! :)


Fica a dica e Feliz Natal para todos, obrigada mesmo por este ano incrível com a gente no LOHS! Até a próxima resenha.









10 comentários :

  1. Olá, depois dessa resenha é impossível não ficar com vontade de ser a obra. O autor conseguiu fazer uma crítica extremamente inteligente acerca do trabalho escravo, infelizmente ainda uma realidade de muitos. Também percebi que foram necessárias várias pesquisas históricas para compor a trama, tornando a obra ainda mais rica. Beijos.

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  2. Oi, Camila. Não imaginava que um livro de ficção científica fosse abordar um tema como esse. E acho que o bom no livro é que ele não é um simples livro, eles nos traz reflexões!

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  3. Oi Camila !
    Já li 100 anos de solidão e é pesado e intenso!
    Ainda não conhecia esse livro mas sua temática me chamou atenção !!

    Parabéns pela resenha !
    Bjos

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  4. Não conhecia este livro, mas confesso que me chamou bastante atenção.
    Amo distopias e nunca tinha visto nenhuma que relatava sobre a escravidão, outro ponto que me deixou curiosa para conferir.

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  5. Camila!
    Fiquei intrigada com a hipocrisia de se ter sido escravo e depois se tornar um 'capitão do mato', indo a caça de seus ex compatriotas, imagino mesmo o tamanho do dilema que ele deve ter vivido durante todo enredo.
    Bom final de semana e FELIZ NATAL!
    “Celebrar o Natal é crer na força do amor, é isto que transforma o homem e o mundo. Feliz Natal!” (Desconhecido)
    cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA dezembro 3 livros + 2 Kits papelaria, 4 ganhadores, participem!

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  6. Interessante essa leitura e muito triste também saber que ainda existe esse absurdo, é um verdadeiro conflito que o capitão do mato sofre. Deixa o leitor comovido e pensando em como essas pessoas vivem.

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  7. Oi, Camila!
    Não curto livros pesados, prefiro livros com enredos leves e simples, sem falar que não curto o gênero distopia... por isso eu dificilmente leria Underground Airlines...
    Bjos!

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  8. Oi, Camila!!
    Acho que nunca li nenhum livro que fale do tema de escravidão em uma estória de distopia. Sem dúvida é um livro bem diferente e interessante.
    Bjoss

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  9. O título já me chamou atenção, e ao ler a resenha fiquei ainda mais interessada! Gosto muito de distopias e pretendo ler esse livro em breve... Adorei! Bjs

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  10. De fato o protagonista é uma contradição e o livro uma provocação. Muito bom!! E mesmo que a escravidão tenha "acabado", seus efeitos ainda são absurdamente sentidos (O ódio que você semeia deve ajudar a pensar sobre isso) e uma leitura reflexiva é muito válida. Acho muito interessante para um filme, mas não sei se iria engrenar na leitura (tanto por ser um livro pesado quanto por geralmente optar por romances [por mais que eu tente engrenar em outros gêneros])...

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