#Especial Star Wars: Kenobi

Autor: John Jackson Miller 
Título original: Star Wars / Kenobi
Tradução: Fábio Fernandes
Editora: Aleph
Páginas: 528
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Sinopse: A República foi destruída, e agora a galáxia é governada pelos terríveis Sith. Obi-Wan Kenobi, o grande cavaleiro Jedi, perdeu tudo... menos a esperança.
Após os terríveis acontecimentos que deram fim à República, coube ao grande mestre Jedi Obi-Wan Kenobi a missão de proteger aquele que pode ser a última esperança da resistência ao Império. Vivendo entre fazendeiros no remoto e desértico planeta Tatooine, nos confins da galáxia, o que Obi-Wan mais deseja é manter-se no completo anonimato e, para isso, evita o contato com os moradores do local. No entanto, todos esses esforços podem ser em vão quando o “Ben Maluco”, como o cavaleiro passa a ser conhecido, se vê envolvido na luta pela sobrevivência dos habitantes de um oásis esquecido no meio do deserto e em seu conflito contra o perigoso Povo da Areia.

Kenobi foi o segundo livro do Universo Expandido de Star Wars que a editora Aleph lançou no Brasil e era a obra que eu mais desejava ler. Isso porque, não sei explicar a razão, mas sempre acabo gostando mais de personagens secundários do que dos próprios protagonistas em 99% das séries que leio ou assisto. Focando nessa saga, os meus favoritos são os droides (estou louca para ter o R2-D2 e o BB-8 só para mim!!!), o mestre Yoda e, obviamente, Obi-Wan Kenobi.

Acho que me apaixonei mais ainda por Kenobi quando ele foi interpretado pelo maravilhoso Ewan McGregor durante a trilogia prequel (Episódios I, II e III)! Quem não se apaixonaria?! ;)

Hormônios à parte, Obi-Wan Kenobi é um dos personagens mais importantes na saga por seu papel crucial na formação de Anakin Skywalker e Luke Skywalker. Assim, acredito que ler essa obra é mais que uma obrigação para todos os fãs da série.

O autor, John Jackson Miller, é conhecido pelas suas HQs da Marvel Comics e da Dark Horse Comics e, em 2006, foi desafiado pelo próprio editor a escrever uma história que até então não tinha sido criada: um western de Star Wars. John se empolgou e depois de escrever 50 páginas de anotações percebeu que a trama se encaixaria melhor como romance em vez de uma graphic novel. Assim a história foi engavetada até 2012 quando surgiu a oportunidade de escrever seu primeiro livro do universo expandido, publicado originalmente em 2013 no Estados Unidos e em 2015 no Brasil. 

Até que a hora certa seja, desaparecer iremos.
Yoda, p. 17

O livro mostra esse personagem marcante após o Episódio III (A Vingança dos Sith) quando recebe a missão mais importante da sua vida: proteger a talvez última esperança da galáxia, o bebê Luke Skywalker. Mas para isso Obi-Wan Kenobi deverá abandonar o jedi e se transformar no “Ben Maluco” que vive isolado no deserto de Jundland, em Tatooine. Essa mudança é um dos principais pontos na obra.

É nessa simplicidade da trama que se encontra sua grandeza. A história mostra um Kenobi perdido e amargurado pelo passado. Ele se culpa por não ter sido capaz de impedir Anakin de se perder para o lado sombrio. Também se culpa pelas mortes dos jovens padawans, além das mortes que ainda virão para exterminar o que restou dos jedis na galáxia. Todo o sofrimento que foi causado ou que será consequência dos fatos que sucederam o fim do Episódio III pesa sobre os ombros dele. 

Resolvi assumir o risco e fui até o Oásis Pika. Ao Lote de Dannar, na verdade, o grande complexo que existe por lá. Eles têm praticamente tudo de que preciso - exceto, talvez, um exército para libertar a República.

Kenobi, p. 152

Tatooine

Como fazia parte do desafio tornar o livro um western, não havia planeta melhor que o inóspito Tatooine. Com seus desertos sem fim e perigos naturais, o clima de faroeste é completado pelo confronto entre os colonos e os Tuskens, também conhecidos como Povo da Areia. As disputas relembram – e talvez tenham sido inspiradas – nas antigas histórias de cowboys e indígenas americanos. 

O início da obra constrói bem esse dilema entre os colonos que só querem viver em paz em suas fazendas contra os Tuskens, que têm suas vidas ameaçadas com o avanço da ocupação dos fazendeiros no deserto. Ben Kenobi chega à Tatooine, entrega o pequeno Luke para seus tios Lars e está pronto para se afastar de todos para enfrentar o seu exílio, mas acaba sendo forçado a interagir com as pessoas da região e é então introduzido de forma arbitrária ao confronto.

Assim, os Tuskens atacam os colonos que se atrevem a criar residências em suas terras e os colonos criam uma milícia para contra-atacar o Povo da Areia. Essa é a base inicial do enredo que irá se desenvolver de uma forma muito inteligente e surpreender o leitor a cada descoberta realizada sobre os segredos que alguns personagens guardam.

Tuskens

Deixo aqui uma observação pessoal sobre o enriquecimento cultural que John deu ao Povo da Areia. Os Tuskens são muito mais do que guerreiros com os corpos cobertos nesse livro. Eles têm lendas, profecias, uma cultura própria de um povo antigo que vive há muitas gerações no árido deserto. E, em nenhum momento da leitura, eles são vistos como os inimigos. O destaque vai para A’Yark, líder de guerra Tusken, que tem quase como uma obrigação de vida tornar seu povo diminuto – e que continua diminuindo a cada dia – os fortes guerreiros que foram no passado, além de manter o modo de vida Tusken vivo.

Do lado dos colonos, dou total destaque a Annileen Calwell, dona do armazém Lote do Dannar, viúva e mãe de Kallie e Jabe Calwell. Ela é uma mulher forte, cuidando de seu negócio sozinha e ainda tendo o desafio de cuidar de seus filhos adolescentes. Enfrenta tudo o que aparece na sua frente para manter sua família a salvo, além do negócio prosperando. É também em seu armazém que toda a população da redondeza se reúne para festejar, beber ou simplesmente relaxar depois de um longo dia de trabalho.

Outros personagens importantes são o fazendeiro de umidade e empreendedor, Orrin Gault, e seus filhos, Mullen e Veeka Gault. São um tanto quanto esnobes, mas populares por conta da criação da milícia que protege todos os colonos do Povo da Areia. Além do fazendeiro de umidade, Wyle Ulbreck, que gosta de contar e recontar seus feitos heroicos – que até hoje desafiam as leis da física – tanto quanto tem certeza que todas as pessoas desejam lhe roubar.

Enquanto a ação rola solta entre os colonos e os Tuskens, o aprofundamento psicológico de Kenobi foi percebido por meio dos intervalos de meditação do jedi, contando os acontecimentos do momento ao seu antigo mestre jedi, Qui-Gon. Isso humaniza Obi-Wan de uma forma tão real que você quase esquece o ser misterioso que ele virá a ser no Episódio IV (Uma Nova Esperança).

Transformação de Obi-Wan Kenobi nos filmes, interpretado por Ewan McGregor e Sir Alec Guinness

Ainda ao longo da leitura, os fãs de Star Wars conseguirão perceber pequenas sutilezas na história que falam sobre momentos de Anakin e Yoda durante os filmes. Mas quem não tem contato com a série ainda, não se preocupe! Porque a história é tão interessante que às vezes a gente até esquece que se trata de Star Wars. Recomendo apenas que tenha visto os filmes para já ter uma imagem mental do que é Tatooine e seus habitantes porque nesse ponto não há muita descrição por parte do autor. Não o culpo também porque esse planeta está presente em muitas histórias e em quase todos os filmes, o que torna a quantidade de imagem conhecida muito grande.

Além dessa leitura deliciosa e fluída, a edição da editora Aleph é linda – como todos os livros publicados por eles – e a capa é simplesmente perfeita. Se você não leu nenhum livro do Universo Expandido de Star Wars, recomendo muito que comece por Kenobi. Não há muitos personagens ou espécies para se confundir, o texto é fácil, divertido e gostoso a ponto de você nem perceber que o livro tem mais de 500 páginas, e a história é simplesmente excelente! 

Entrou, sem dúvida alguma, na minha lista de favoritos e ainda senti aquela leve tristeza ao me despedir do mestre jedi quando chegou ao fim, mas também fiquei mais apaixonada que nunca! ;)

Obi-Wan Kenobi em Tatooine