Pequena Abelha

Autor: Chris Cleave
Título original: The Other Hand
Tradução: Maria Luiza Newlands
Editora: Intrínseca
Páginas: 272
Onde encontrar: AmazonBr | Cultura | Saraiva Submarino

Essa é a história de duas mulheres cujas vidas se chocam num dia fatídico. Então, uma delas precisa tomar uma decisão terrível, daquelas que, esperamos, você nunca tenha de enfrentar. Dois anos mais tarde, elas se reencontram. E tudo começa… Depois de ler esse livro, você vai querer comentá-lo com seus amigos. Quando o fizer, por favor, não lhes diga o que acontece. O encanto está sobretudo na maneira como essa narrativa se desenrola.

Pequena Abelha foi uma das leituras mais rápidas e gratificantes que já tive o prazer de realizar e, ao mesmo tempo, é uma das resenhas mais difíceis de se escrever. O livro não é um lançamento, mas é uma das histórias mais atuais que você vai encontrar hoje em dia.

Quero deixar claro aqui que este não é um livro de prazer. É aquele tipo de texto que te tira da sua zona de conforto e deixa uma cicatriz que irá fazê-lo relembrar e refletir por muito tempo. Assim como é dito na sinopse, não posso contar muito sobre a história para não estragar a incrível narrativa criada nessa ficção que poderia muito bem ser uma biografia real.
“Se seu rosto está inchado pelas duras pancadas da vida, sorria e finja ser um homem gordo.” Provérbio nigeriano (p. 7)
A história trata do ponto de vista de duas mulheres, uma inglesa e uma nigeriana. As duas se conheceram dois anos antes do início da história, em um evento que marcou a vida de ambas para sempre e que será um dos clímax desse livro.
Pequena Abelha é o nome que uma menina africana de 16 anos escolheu para si mesma a fim de ter uma vida nova no Reino Unido. Sua aldeia na Nigéria foi invadida por europeus para a extração de petróleo. Como acontece até hoje nos países mais pobres, as crianças e jovens se tornam testemunhas de muito sofrimento e morte. E a Pequena Abelha, para não ser morta como um arquivo corrompido que tem muitas informações importantes, foge para o Reino Unido como uma imigrante ilegal a fim de tentar sobreviver.

Infelizmente, como todo sistema é burocrático, a menina fica detida por dois anos em um centro de detenção de imigrantes no Reino Unido, enquanto espera a autorização do governo a seu pedido de asilo político. A protagonista já nos deixa consciente que para sobreviver nesse centro é preciso ser bonita ou saber falar direito. Por medo de ser assediada, ela toma poucos banhos, não usa fragrâncias cheirosas e sempre procura por roupas largas o suficiente para esconder seu corpo. E durante todo esse tempo presa, a Pequena Abelha aprende a falar o inglês da rainha.

Enquanto a Pequena Abelha não tem nada, nossa outra protagonista, Sarah, tem tudo: um ótimo emprego como editora de revista, dinheiro, casa própria, carro, um marido e um filho. As duas personagens são completamente antagônicas não apenas no quesito de posse de coisas, mas também na forma que cada uma tem de encarar a própria vida.

Assim, no decorrer do texto, as duas se reencontram e muitos segredos são confessados aos poucos, como se fosse um lento preparo em banho-maria. Os capítulos têm a narrativa alternada entre Pequena Abelha e Sarah, uma arma poderosíssima usada pelo autor para manter os mistérios até o momento em que ele deseja nos contar a verdade. E quando você imagina que não há mais nada para descobrir, BUM! Vem o choque de mais uma grande revelação.

O autor, Chris Cleave, fez um trabalho incrível surpreendendo a cada capítulo com diversas reviravoltas. E este foi apenas o segundo livro desse escritor! 

Como já disse antes, não é uma leitura leve. Deixo claro aqui que não é aquele livro repleto de sangue em todas as páginas, mas sim aquele que traz um peso psicológico tão grande e tão forte que é impossível você não refletir sobre a sua vida e a vida de muitas pessoas que você nunca viu, mas que são tratadas de uma forma que você não faria com o seu cachorro ou gato.

Quando eu terminei esse livro, confesso que chorei muito. Me senti um lixo. Tenho uma vida muito confortável hoje, não passo fome, tenho boas roupas, uma casa, uma família e um emprego. Mas e com relação a todas essas pessoas que não conheço?! Será que o meu conforto está acabando com vidas em algum lugar? 
“Temos de ver todas as cicatrizes como algo belo. Combinado? Este vai ser nosso segredo. Porque, acredite em mim, uma cicatriz não se forma num morto. Uma cicatriz significa: ‘Eu sobrevivi’.” (p. 17)

Eu tenho uma cicatriz muito forte formada por esse livro, e não me arrependo. É uma prova de sobrevivência, como dizia minha querida Pequena Abelha. Eu o recomendo de olhos fechados. E você? Vai arriscar?





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