Encrenca

Autora: Non Pratt
Título Original: Trouble
Tradução: Silvia M. C. Rezende
Editora: Verus
Páginas: 308
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| Livro cedido em parceria com o Grupo Editorial Record | 

Sinopse: Encrenca é a história de dois jovens que estendem a mão um para o outro quando todas as demais pessoas parecem lhes dar as costas. Quando o colégio inteiro descobre que Hannah Sheppard está grávida, ela tem um verdadeiro colapso. E quem está ao seu lado é Aaron Tyler, um aluno novo e o único garoto que não parece ter segundas intenções em relação a ela. Desejando compensar seus erros do passado, Aaron toma uma difícil decisão - ele se oferece para fingir ser o pai do bebê. E, temendo revelar quem é o verdadeiro pai, Hannah aceita. Em um período marcado por perdas, arrependimentos e esperança, os dois vão descobrir que nada se compara a encontrar o seu primeiro melhor amigo de verdade. Este livro inteligente, por vezes comovente e engraçado, mostra que crescer pode ser complicado, mas é assim que se descobre o que realmente importa na vida.

Eu preciso começar confessando que tinha já uma ideia de como o livro seria. E eu não poderia estar mais enganada. Peguei o livro crente de que seria algo próximo de um chick-lit como qualquer outro, mas encontrei muito mais história, maturidade e profundidade, e caí de amores por ele, terminando mais cedo do que esperava. E até agora, acho que não superei!

Simplificando: Hannah é a garota na escola que tem fama de "vadia" (sim, até no Reino Unido as pessoas são babacas no Ensino Médio), saindo com vários garotos, indo a todas as festas que pode, bebendo e se divertindo como se não houvesse amanhã. Aaron, no entanto, é o recém-chegado da escola, quieto, antissocial e, aparentemente, certinho. Ninguém poderia imaginar que os dois teriam algo em comum nem em um milhão de anos... a não ser por um filho.

Hannah engravida aos 15 anos e, apavorada por ter de contar a sua mãe e seu padrasto, além de sua avó, ela esconde a todo o custo a identidade do pai da criança. Sem saída, cansada do círculo de amizades falsas e interesseiras do qual faz parte e cheia dos boatos e casos da escola, ela se vê sozinha até conhecer Aaron. Filho do professor de história, ele esconde um passado de arrependimentos, e decide que se redimirá assumido o posto de pai falso do bebê para ajudar Hannah.


Admito que fiquei um tanto confusa com o começo do livro, pois pensei que eram passagens do diário de Hannah; na verdade, o livro é um POV (point of view), ou seja, narrado com pedaços intitulados "Aaron" ou "Hannah", sempre em primeira pessoa, que contam o que está acontecendo no instante da cena descrita pela perspectiva da personagem em questão. Os relatos, parecidos com fluxos de pensamento, são separados pela data em que acontecem (por isso imaginei um diário), e o livro inteiro possui três sessões: uma antes de Hannah dividir com a família que está grávida, uma que acompanha os maiores perrengues pelos quais os dois passam, e a última com o desfecho da história. Essa estrutura, no final das contas, só serviu pra melhorar ainda mais a história, já que em alguns momentos, os dois relatos coincidiam, e era possível ver como cada um enfrentava a mesma situação de um jeito diferente.

Como disse, eu esperava um livro simples. O que encontrei foi um verdadeiro retrato do pânico que é ser uma adolescente grávida, com medo de cada escolha a ser feita, e de um adolescente sufocado pela culpa de suas ações passadas. Eles são novos, quando paramos para pensar, mas têm tanto a dizer, e seus sentimentos são tão bem transcritos, que eu marquei 11 passagens que simplesmente amei. Eu até chorei lendo esse livro, e eu juro que não estava preparada pra isso.

Uma dessas passagens me ajudou a ter a mente mais aberta para o que quer que fosse descobrir sobre a real personalidade de Aaron; em uma discussão com seu pai, sobre ser ou não amigo de Hannah, ele exprime o sentimento mais universal da adolescência:

— [...] Não é você quem vai escolher meus amigos. — Passo por ele, tentando não parar na porta e falar o que não devo, mas não consigo segurar. — Eu também não sou perfeito, mas cabe a mim cometer os meus próprios erros.    P. 32

Aos poucos, podemos ver que de certinho e calado, Aaron não tem quase nada. Com o tempo, vai ficando mais claro o que aconteceu, e o porquê de o garoto ser tão fechado. Mais uma passagem que amei, e agora que terminei o livro, acho que descreve muito bem o sentimento que ele tem, foi simplesmente uma linha, que dizia tanto sem falar quase nada:

É sufocante ser perdoado quando tudo o que você quer é levar a culpa.  P. 113

Por causa da temática principal, somos levados a acreditar que o foco é Hannah, e que toda a história gira em torno da gravidez na adolescência, quando é muito mais do que isso: os dois são personagens principais, os dois possuem seus conflitos, e são muito diferentes. Porém jamais foram opostos, e é por isso que a parceria que, a princípio parece uma completa loucura,  funciona tão perfeitamente bem.

Outro tapa na cara que levei foi a personalidade de Hannah. Fútil, desmiolada, egoísta, insensível e despreocupada são adjetivos que não tem nada a ver com ela, mas que eu pensei que fossem caber. Hannah é muito mais do que a "devassa" do colégio (nem se engane com essa ideia, também): depois de ficar grávida é que percebemos como ela foi levada a se tornar a garota popular que é, como foi mudando por fora, mas sempre sendo a mesma por dentro.

Apesar de todas as boas surpresas, a previsibilidade do livro também é muito bem dosada: sabemos o que vai acontecer, sabemos quem é o pai da criança pelas entrelinhas e temos uma grande chance de saber qual acontecimento faz Aaron mudar de escola, mas ainda há mais por trás para ser descoberto, e os fatos em si não parecem ser o foco, mas como as personagens se sentem com relação a eles, e o que vão fazer para seguir adiante.

Os temas principais também são tratados com uma maturidade e realidade que eu nunca esperei encontrar. Os pensamentos de Hannah são muito válidos e possuem um humor por vezes ácido, suas dúvidas me fazendo parar pra pensar no que eu realmente sabia sobre gravidez, adolescência, sexo, amor, aborto, escolhas, família, amizade, sobre tudo. É tudo tão real que não sei como não chorei ainda mais. As citações que mais me fizeram sentir empatia pela personagem são estas duas:

As palavras parecem ficar suspensas no ar por muito mais tempo do que o possível. Tudo parou e o quarto prende a respiração, esperando até que o significado do que eu disse assente. Grávida. Sinto um vazio por dentro e posso ouvir a palavra ecoando dentro de mim. A questão é que estamos falando do oposto de vazio, não é mesmo? Esse é o problema.    P. 54
Você ouve falar de mulheres que mudam de ideia na porta da clínica porque descobrem que o feto que trazem dentro da barriga já tem unhas, ou o órgão genital, ou uma tatuagem escrito "mamãe" na bundinha, ou sei lá. Mas isso não quer dizer que unha seja igual a alma. Isso só quer dizer que ele vai ter unhas para cortar.
Sou a favor do direito de escolha, mas o que acontece quando você não quer escolher?   P. 68

Non Pratt soube escolher as palavras, as cenas e os sentimentos perfeitos para que a história não fosse apenas verossímil, mas real demais. Parecia o relato de algo que aconteceu de fato, e foi então que eu parei pra pensar: poxa, quantos jovens não se encontram em situações idênticas? É real, sim.

Outro ponto legal de destacar é o humor: não pense que é tudo tão dramático sempre; existem momentos de alívio cômico com os amigos mais fiéis de Hannah — sendo um deles o elementar amigo gay, Gideon. Só queria deixar bem claro também que estamos falando de adolescentes: sim, eles falam palavrões, sim, há cenas de sexo, sim, há temas pesados, mas isso não significa que você precise temer a leitura. Quer dizer, a capa original do livro já é uma piada por si só, por que diabos você dispensaria tudo de incrível que ele tem a oferecer?


Falei bastante desse livro, eu sei, mas eu acho que é uma leitura necessária, além de envolvente. São mil e um temas comuns tratados como tabus, que precisam ser quebrados. Todo mundo tem uma opinião feita sobre tudo na vida, não é mesmo? Rotulamos pessoas, nerd, vadia, renegado, achamos que sabemos o que é um aborto, o que é a perda de amigos, o que é um divórcio, sendo que muitas vezes não passamos por essas experiências. E mesmo quando passamos, não temos em mente que cada pessoa enfrenta essas situações de uma maneira diferente. Então são tapas na cara, mas são tapas necessários; sem eles, talvez nunca acordemos.

Recomendo fortemente, por todas as surpresas, previsibilidades e um show de escrita, que revela uma verdadeira preocupação em retratar o adolescente como ele é, e não como os adultos dizem que ele é. Também recomendo tempo para absorver a leitura, e uma caixa de lencinhos, porque em alguns momentos ela pode ser necessária, hein? Hahaha!




Resenha por Bel Brito



11 comentários :

  1. Acho tão bonito quando os autores conseguem nos despertar esse sentimento de proximidade com a realidade né?É tão bom sentir isso.Amei sua resenha. e amei como a história foi produzida..muito bom mesmo :)

    beeijão :)
    http://carolhermanas.blogspot.com.br/

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  2. Ahhhh Bel! É tão bom quando uma leitura nos surpreende... Gostei muito da premissa do livro e sua resenha só me deixou ainda mais curiosa.
    Adoro quando o livro aborda temas um tanto polêmico.E gravidez na adolescência certamente retrata bem isso.
    Hanna e Aaron parecem personagens reais, com dramas reais.
    Com certeza uma leitura obrigatória :D
    Abraço!

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  3. Amo quando duas pessoas que estão passando por trágicas situações ruins se unem e se completam, ao ver que é um chick lit eu nem acreditei, o livro parece mesmo ser muito maduro... amo livros narrados com diferentes pontos de vista, assim me sinto mais próxima dos personagens, pessoas tão novas que infelizmente tomaram decisões precipitadas, comprometendo seu futuro, estou com muita expectativa para o livro, espero me divertir mesmo que o tema seja meio pesado

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  4. Achei essa capa bem bonitinha, é simples mas bem fofinha. Olhando para a capa também pensei se tratar de um chick-list. Fiquei surpresa por saber em sua resenha que não se trata nada disso, mas sim um assunto bem dramático e pesado. Fico imaginando como deve ser esse momento para os dois. Ela que vai ser mãe tão jovem e ele que também jovem assumirá uma responsabilidade que na verdade nem é sua. Fiquei bastante curiosa com o livro!

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  5. Confesso que já tinha visto a sinopse desse livro, mas ela não despertou minha curiosidade. Porém, depois de ler sua resenha descobri mais detalhes sobre o enredo e esses detalhes me agradaram e chamaram muito minha atenção. Não sabia que o livro era tão ''profundo''. Acho bem legal quando a leitura consegue nos causar diversas emoções.

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  6. Nossa pela capa não daria tudo isso para o livro. Mas pela resenha parece ser bem interessante, esses conflitos que os adolescentes passam por não saberem o que fazer quando acontece algo é muito comum na realidade, tema da gravidez também é muito comum hoje em dia, mas não paramos para pensar o que eles passam diante de tal situação, o livro parece que nos mostra esse outro lado, de nos colocarmos no lugar deles.

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  7. Bel, quero muitoooo esse livro. Amei!!! Parece, como falou, muito diferente de tudo o que já li. Tô curiosa. xD

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  8. Adorei a capa ,aliás as capas ,que apesar de diferentes são bem legais .
    Simplesmente adorei sua resenha ,da ora ver que vc realmente gostou do livro .
    Sinceramente ,só pela sinopse eu não leria não ,mas depois da sua resenha. Vou até procurar .

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  9. as pessoas não são muito diferente no resto do mundo... acho q ensino médio tem gente babaca em todos os países, enfim... voltando a história achei a temática bastante legal deve ser um livro legal para ser trabalhado na idade da Hannah. achei bem legal que eu não fui a única que pelo resumo achei q seria uma coisa mais era outra. só não sei se eu leria, passei da idade...

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  10. Olá, Bel!

    Amei a resenha!

    Tô doida pra ler este livro. Achei a capa linda e a sinopse me lembrou um livro que gostei demais, Art&Soul. Já leu?
    Gosto de livros que falam sobre temas reais, difíceis. SObre aquelas situações que acontecem, mas que as pessoas preferem manter uma distância, preferem fazer vista grossa. Ou, como você comentar, julgar, mas sem se colocar no lugar de quem passa por aquilo. Acho que livros assim são um exercício pra gente treinar empatia. Né?

    Beijo

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  11. Caramba, primeira vez que estou lendo uma resenha desse livro e realmente fiquei interessado.
    Os temas abordados são reais e atuais, mostra que julgamos pela aparência e atitudes, mas nunca sabemos quais os verdadeiros motivos que fazem tal pessoa agir de determinada forma, tem todos os elementos e de uma forma tão crível narrados, com personagens tão humanos, que nos comove mesmo.
    Uma leitura com o ponto de vista dos dois personagens e divida em partes, tem um ritmo mais rápido e podemos acompanhar as várias faces dessa estória, vou deixar anotado aqui na lista.

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