Jane Eyre

Autora: Charlotte Brontë
Título Original: Jane Eyre
Tradução: Heloisa Seixas
Editora: BestBolso
Páginas: 528
Onde encontrar: AmazonBr AmericanasCultura | Saraiva | Submarino

Sinopse: Jane Eyre é uma menina órfã que vive com sua tia, a sra. Reed, e seus primos, que sempre a maltratam. Até que, cansada do convívio forçado com a sobrinha de seu falecido esposo, a mulher envia Jane a um colégio para moças, onde ela cresce e se torna professora. Com o tempo, cresce nela a vontade de expandir seus horizontes. Ela põe um anúncio no jornal em busca de trabalho como governanta. O anúncio é respondido pela senhora Fairfax, e Jane parte do colégio para trabalhar em Thornfield Hall. Lá, ela conhece seu patrão, o sr. Rochester, um homem brusco e sombrio, por quem se apaixona. Mas um grande segredo do passado se interpõe entre eles.

Já havia falado de Jane Eyre uma vez, há muito tempo, e bem brevemente. Mesmo assim, já ficou claro meu amor por esse livro no pouco espaço que tive para falar dele.

No cenário dos romances de época, quase sempre somos cercados pelas séries atuais, que retomam o século XIX, ou por clássicos de Jane Austen e da infalível Emily Brontë, de fato publicados na primeira metade dos 1800. Sobra pouco tempo para se falar do que foi o sucesso imediato de Jane Eyre, e é por ele que estou aqui.

Publicado pela primeira vez em 1847, a história segue a trajetória da vida de Jane Eyre, a heroína do romance. Sendo um texto denso e extenso, vou tentar resumir a obra à minha maneira. Sempre que penso no livro como um todo, separo-o, na minha cabeça, em três fases: a infância de Jane na casa de seus tios, o período em que estuda em Lowood até a juventude, e a vida adulta até o desfecho, todas elas muito caracterizadas — e subdivididas - pelo espaço físico em que as cenas se configuram. 

A maneira mais fácil de descrever o início seria compará-lo com Cinderella: órfã, vive na casa de parentes que não a cuidam bem, principalmente seus primos mais velhos (o equivalente às irmãs malvadas no conto de fadas), sofrendo constantes maus-tratos.

Fiz o que ele mandava, sem entender, no início, o que John pretendia. Mas quando o vi suspender o livro, preparando-se para atirá-lo longe, instintivamente dei um pulo para o lado, soltando um grito de susto. Mas já era tarde. O volume foi arremessado, bateu em mim e eu caí, dando com a cabeça na porta e sofrendo um corte. O corte sangrou, a dor era aguda. Meu terror foi além do limite, e outros sentimentos se sucederam.
P. 19
O que a difere, no entanto, seria sua mente afiada e língua ferrenha, pois Jane raramente se deixa abater sem antes brigar. É uma garota inteligente desde cedo, capaz de se manter forte apesar da situação na qual se encontra.

A narrativa, bastante linear, segue para a vida de Jane em um colégio interno Lowood só para meninas, para onde é mandada quando sua tia desiste por completo de mantê-la sob seu teto. Extremamente estrito e repleto de mais adultos severos e, por diversas vezes, maldosos, Jane se livra de sua prisão domiciliar apenas para se ver presa em uma ainda pior, já sem os luxos da vida burguesa de seus tios.

Em uma atmosfera digna de Charles Dickens, Jane enfrenta a transição levando golpes da própria fortuna: os castigos impostos às alunas incluíam ficar de pé em frente à sala durante toda a aula, por exemplo, e a garota descobre o sentimento de estar nessa posição na própria pele.

— Que ela fique aí nesse banco por mais meia hora e que ninguém lhe dirija a palavra durante o resto do dia.
E lá fiquei eu, no alto do banco. Eu, que dissera que não suportaria a vergonha de ficar exposta à curiosidade geral, sobre aquele pedestal da infâmia. As minhas sensações naquele momento são algo impossível de descrever com palavras.
P. 85

Rapidamente pulando para a terceira — e talvez mais importante - fase, chegamos na idade adulta de Jane; madura e saída de Lowood como preceptora (professora, na época), a personagem chega até  Thornfield, onde trabalha para o rico e carismático Sr. Rochester. Sendo um romance do século XIX, não preciso dar mais detalhes da relação que irá se formar. O que nos interessa não é o o quê, mas o como: Jane, como já mencionei, tinha uma língua ferrenha, e não hesitava em fazer uso de seus conhecimentos para se defender sempre que necessário. Ela nunca foi submissa a ponto de aceitar aquilo com o qual não compactuava, andando com as próprias pernas, fazendo as próprias escolhas — uma delas a escolha de se casar ou não. Essa parte de seu caráter lhe rendeu várias discussões inteligentes com seu patrão – e uma das minhas citações preferidas também:

— Jane, não lute tanto, como um pássaro selvagem que, em desespero, perde a plumagem ao se debater.
— Não sou pássaro. E nenhum ninho me envolve. Sou um ser humano livre e independente, que agora, por vontade própria, vai deixá-lo.
P. 295

Jane vivia por seus princípios, e em diversos momentos debate consigo mesma sobre suas ações e sobre a correspondência daquilo que deseja com aquilo em que acredita.

Um ponto que acho fundamental para o sucesso do livro é a narração da própria Jane. Além de construir a narrativa por meio do relato em primeira pessoa, acredito que a melhor maneira de entendê-la e descobrir sua personalidade é pelas entrelinhas. Nada define melhor a personagem do que a maneira como conta sua história e o que se passava em sua cabeça enquanto agia.

Acredito que, dentre as heroínas românticas que já li — e até reli-, Jane Eyre é minha favorita. Ela alcançou um patamar que nenhuma Elizabeth Bennet ou Catherine Ernshaw, por maior que seja meu respeito e carinho por tais personagens, conseguiu; a independência e pensamento próprio, dissociados da convenção social de família, respeito e até amor, são únicos de Jane e a fazem uma personagem completa.

Da primeira vez que terminei a leitura, apesar da vontade imediata de recomeça-la, percebi que era uma obra bem completa, talvez por ser tão extensa e detalhada, talvez por ser tão bem narrada e envolvente, cheio de reviravoltas e surpresas que não caberiam nos romances de época aos quais estamos habituados.

No entanto, Jane Eyre não destoa de seus similares – ele se destaca, merecendo bem mais reconhecimento do que tem. Gosto tanto do livro que vale a pena ter uma edição bonita dele, só para poder olhar da estante e lembrar como eu amo a história. 









12 comentários :

  1. Oi Bel, essa história é realmente excelente, eu vi um filme e uma série baseadas nela e sai encantada. A primeira e a segunda fase que você descreveu, vivendo com a família e no orfanato são as fases mas intensas, assistindo eu senti raiva do que é feito com Jane ainda criança e penso que a leitura vai intensificar essa raiva já que deve descrever com mais detalhes esse período, mas um ponto que eu gosto muito é o fato de que a protagonista não esmorece, ela é forte e resiste a tudo que surge em sua vida. Eu com certeza quero ler o livro, mas não essa edição da BestBolso, porque os livro são tão pequenininhos e consequentemente as letras nas páginas também.

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  2. Oi, Bel!!
    Ainda não conhecia esse livro nem a autora, mais achei uma história bem interessante. A resenha foi excelente!!
    Beijoss

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  3. Eu amo história lineares, elas me deixam menos confusa quanto ao tempo e ao cenário, então prefiro livros que sigam isso. Não conhecia esse livro, nem mesmo sabia da sua primeira impressão, mas adorei saber que é quase um clássico, o que já deixa aquela abertura de "tenho que ler um dia". A história é bem interessante e a personagem parece ser bem forte.
    Um abraço!

    http://paragrafosetravessoes.blogspot.com.br/

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  4. UAU! Ainda não conhecia essa obra, mas agradeço demais pela dica rs
    A história parece ser incrível, sua resenha me deixou super curiosa.
    Adoro histórias desse estilo, vou procurar saber mais.
    E que personagem principal é essa? Fiquei encantada só pelo que li aqui.
    Ótima resenha <3 muito amor envolvido!
    Beijos,
    Caroline Garcia

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  5. Eu to encantada com tudo nesse livro. A capa, a história, a tua resenha... Meu Deus! O comparativo do livro com a história da Cinderela me deixou ainda mais curiosa.
    E a vontade de saber o final do livro? rs
    Com certeza, mais um pra lista. E esse vai pro topo.
    Beijo.

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  6. Ainda não li nenhum livro da autora, mas já vi esse livro e fiquei interessada. Gostei da protagonista ser forte e falar o que pensa, nada daquelas comportadinhas rs.

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  7. Oii Bel!
    Que lindo esse livro! Eu já tinha ouvido fla mas nunca lido nd sobre ele...
    A capa eh uma fofura! Qroo conferir com toda ctz!
    Bjs!

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  8. Oi :)
    Adoro romances de época e to sempre aberta a ler livros assim. Nunca tinha ouvido falar desse livro mas sim da autora, e só ouvi comentários positivos da escrita dela. Fiquei bastante curiosa pra saber mais a respeito desse livro e com certeza vou lê-lo.
    Beijos.

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  9. Olá.
    Capa maravilhosa e a premissa, encantadora. Como não querer um livro desses na estante? É para ler e admirar. Adoro esse gênero e com certeza adicionei a minha lista de desejados. Sua resenha está muito bem elaborada e motivadora a leitura. Obrigada por essa bela dica. Beijos.

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  10. Amo romances de época e por incrível que pareça estou lendo O Morro dos Ventos Uivantes da Emily Brontë.
    Gostei da personalidade de Jane e língua ferrenha,de como ela não aceitava aquilo que não achava certo ela.Fiquei curiosa com o sr. Rochester. Imagino os diálogos de ambos.Terminando minha leitura vou procurar este livro para lê-lo

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  11. Este comentário foi removido pelo autor.

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  12. Oi Bel!
    Nossa, eu confesso que nunca tinha ouvido falar dessa livro, justamente pela mídia no geral dar mais espaço para Emily e Jane. Gosto de romances de época escritos nos séculos passados. Fui tentar uma experiência com a Julia Quinn e me decepcionei.
    O enredo de Jane Eyre simplesmente me encantou! Como eu amo protagonistas fortes, que se impõe e não aceitam nada de cabeça baixa. Estou super curiosa, comprarei esse livro ainda esse ano se tudo der certo! Ótima indicação. Beijos

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