O deserto dos meus olhos

Autor: Leon Idris
Publicação independente: edição, revisão e projeto gráfico por conta do autor
Páginas: 456
Blog do autor + canal no YouTube: Prelúdios

| Exemplar cedido pelo autor como cortesia para resenha |

Informações e venda direta ao leitor: leonidrisii@gmail.com

Sinopse: Rupert Lang só tem lembranças do que não viveu. Nas entrelinhas do papel em que escreve diariamente, ele busca encontrar o que restou de sua identidade perdida. O leitor de seus escritos é sua única companhia, um confidente capaz de guiá-lo de volta ao que ele foi um dia. Como um romance histórico encerrado numa única mente, o caminho a ser trilhado envolve acontecimentos não registrados nos livros de História; passagens pela corte espanhola do reinado de Isabel II, pelas ruas da Praga de Johannes Kepler e pelos corredores de um templo budista construído em um penhasco na China. Aquilo que poderia ter sido vivido e aquilo que se suspeita partir da imaginação recebem igual valor, desafiando o leitor a confiar no caos e a encontrar respostas e verdades no inverossímil – ou apesar dele.

Começo aqui dizendo o quão surpreendente é a leitura desse livro. Ok? Ok. 

Sendo um livro nacional independente, reconhece-se que é pouco conhecido ainda. O livro me chegou em mãos pelo próprio autor (obrigada, Leon), como recomendação de um amigo mútuo (obrigada, Haim). Apenas ouvindo falar sobre a obra pelo entusiasmo de tal amigo, não teria dado muita importância até que fosse, eu mesma, tirar a prova do que estaria lendo. 

Rupert Lang é a personagem principal de um livro que mescla relatos históricos, uma linha do tempo nada linear e diversos questionamentos, tanto da personagem quanto do leitor, acerca do significado da leitura. Rupert narra, e em alguns momentos, conversa com o leitor, sobre o que acontece a sua volta, seja a corte de Isabel II na Espanha do século XIX, seja com Johannes Kepler no século XVI.

Essa “confusão” de fatos não faz muito sentido ao primeiro olhar: não sabemos do que se trata, onde estamos, ou até mesmo quando estamos porque é bem possível que se perca o fio da meada. Mais para a frente, claro, a leitura se torna mais confiável e o leitor pode tentar começar a entender o enredo juntamente com Rupert, e também Benjamin, seu companheiro de viagem — às vezes estilista, às vezes criado, quase sempre um bom conselheiro e constantemente presente no desenrolar da narrativa


A sagacidade com que o livro foi montado é impressionante. Romances históricos sérios sempre demandam muito conhecimento um bom senso de localização entre os fatos e datas. Isso foi bem evidenciado na obra e poucas críticas teria a respeito disso. Mesmo a dificuldade em entender o objetivo que se construía desde o princípio com o enredo vai se dissipando à medida que a leitura avança. Não é segredo para quem lê minhas resenhas — ou simplesmente me conhece bem no quesito de gosto literário — que eu detesto descrições muito estendidas. Reconheço que algumas das descrições presentes no livro eram longas, mas a maioria se fez interessante por causa da visualização da cena. 

"Sentei-me na cama, pus meus pés no chão e percebi quão belo e luxuoso era o meu aposento. O próprio pavimento, revestido de parquet, com carvalho e pau-cetim; a mobília também da melhor qualidade; os quadros imensos em harmonia com as paredes apaineladas que simulavam revestimento de mármore. E muito ouro.” p. 14

Esse não é um livro de leitura fácil. Em vários momentos, fica complicado continuar a leitura por conta de tal “viagem” no tempo não declarada, bem como a aparição de alguns personagens em diferentes espaços e momentos históricos. O que se sobressai, no entanto, é a curiosidade para dar fim à leitura, tão interessante se fez o romance.

Agora, o que preciso comentar é a edição. Não poderia deixar passar o fato de que Leon, publicando-a de forma independente, teve um trabalho primoroso no que diz respeito à escrita do livro, tão bem feita e revista, e também ao trabalho de editoração. A capa é linda e o livro se destaca na minha estante. Um autor nacional sem o apoio das grandes editoras merece mais reconhecimento, bem como meus parabéns e admiração. 

Recomendo a leitura para quem tiver tempo o suficiente disponível para se aventurar nos caminhos criados por Leon. O livro é denso, mas a leitura é prazerosa e recompensa a dedicação necessária para se chegar ao fim. Em meio a tantos livros com pouquíssimo conteúdo sendo lançados como merchandising que ocupam as prateleiras das livrarias, “O deserto dos meus olhos” é surpreendentemente bem escrito e um ótimo exemplar da literatura nacional independente.





13 comentários :

  1. Que interessante a premissa do livro.
    Não conhecia a obra ainda e apesar de não ser um tipo de leitura que esteja nas minhas habituais, confesso que fiquei curiosa.
    Me parece que o autor consegue prender o leitor do início ao fim e gosto disso.
    A história parece ser muito bem elaborada também.
    Gostei bastante da sua resenha.
    Beijos,
    Caroline Garcia

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  2. Oi Bel, achei bem legal o fato do autor estar investindo em si mesmo e lançando de forma independente seu livro e desejo sucesso pra ele. Gostei de saber que a parte história está quase irretocável e achei a sinopse interessante mas infelizmente viagens no tempo não são muito a minha "praia", li alguns livros mas não posso dizer que amei. Contudo cada autor tem sua forma de escrever e sempre posso me surpreender, assim vou continuar acompanhando as noticias desse livro e talvez no futuro o inclua nos livros que quero ler ;)

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  3. Oi!!
    Parabéns pela resenha!
    Estava doida pra ler algo sobre, espero conseguir conferir logo, adorei!
    Bjs

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  4. Poxa, que dica legal! Eu adoro ler livros de autores brasileiros. Eles sao tao subestimados, e tem tanta coisa boa por aqui que e totalmente desconhecida! Eu amei a resenha e com certeza vou dar uma chance para o livro (ja disse o quanto eu gosto que sempre nas resenhas tem os links de onde se pode adquirir o livro? Se nao disse, que fique registrado agora). Toda essa coisa de viagens no tempo e passagens de texto as vezes confusa, faz com que a experiencia do livro se torne ainda mais valida :)
    Beijos e ate a proxima dica :*

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  5. Confesso que não conhecia o autor nem a obra,mas achei a premissa muito boa,fico triste que tem tantos autores que não tem apoio de editoras,enquanto que tem gente que escreve qualquer coisa e pronto o livro é publicado por editoras super famosas :/ eles merecem todo o reconhecimento e apoio,espero que isso mude logo

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  6. Bel, fiquei bem curiosa com essa história e com o fato dessa não linearidade de tempo.
    Quero ler!
    Adoro leituras nacionais, ainda mais de autores independentes (olha eu puxando sardinha para o meu lado, hahaha).
    Gosto do fato de o narrador não ser exatamente confiável. A gente se envolve muito mais na história e fica pensando "mas o que está acontecendo, gente?".

    Beijoooos

    www.casosacasoselivros.com

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  7. Mas gente, o escritor está de parabéns pelo trabalho que teve com o livro porque se diga se passagem é muito difícil públicar um livro no Brasil. Eu confesso que no começo fiquei confusa como é a históriaas você disse que ao lendo pra ter noção, então só lendo pra conferir mesmo.

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  8. Gostei da capa tem um ar misterioso, não conhecia o autor, a obra parece ser bem interessante gosto de historias que envolvam viagens no tempo, deve passar uma boa aula de ensinamentos sobre esses séculos.

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  9. Oi Bel,
    Adoro indicações assim, de livros pouco divulgados mas que nos proporcionam uma leitura surpreendente e prazerosa. Adoro romances históricos, então fiquei muito interessada em conhecer essa história um tanto diferente. Achei muito original o enredo, e apesar de também não ser muito fã de descrições muito detalhadas e longas, esse livro merece uma chance com certeza. Adoraria ler.
    Beijos

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  10. Oi, Bel!
    Eu, como você, não gosto de descrições que se estendem demais, pra mim ficam cansativas. Acho que eu não me daria muito bem com esse livro, e não só por isso, mas por não ter entendido bem do que ele trata, seu início, meio e fim... Não sei, não vi algo que fornecesse um clímax.
    Eu realmente me interesso por livros que envolvem viagens no tempo, mas o cansaço do início da leitura talvez me desestimulasse a continuar.

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  11. Oi Bel, tudo bem?
    Essa capa me chamou muito a atenção, já pela capa eu compraria (desculpa gente, não consigo evitar kk).
    Acho que pela questão do livro não ser 'uma leitura fácil' que me deixa interessada em ler e concluir a obra.
    Eu também não gosto de livros muito detalhados eu me distraio fácil e dai preciso ficar relendo, mas O Deserto dos Meus Olhos vou querer ler com certeza.
    Acho lindo blogs que apoiam livros nacionais, tenho um amigo que lançou por conta própria e realmente não é nada fácil.
    O autor está de parabéns, e você também pela resenha maravilhosa.
    Beijos!
    https://lostwordsin.blogspot.com.br/

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  12. ADOREII BEL!
    Não conhecia o autor nacional mas gostei muito da sinopse e resenha!
    Já até comecei a seguir o autor pelo insta! *-*
    essa capa me lembrou muito a de um livro do Neil Gaiman (M is For Magic) e eu já a adorei muito! :3
    beijinhos

    simplyonestory.blogspot.com.br

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  13. Não conhecia o livro e através de sua resenha, o livro parece ser bem legal!
    Curti!

    Espero poder ter a chance de ler também!

    Beijos,
    Danny
    Irmãos Livreiros

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