| Livro cedido em parceria com o Grupo Editorial Record |
Sinopse: Um clássico da literatura feminista. Uma mulher fragilizada emocionalmente é internada, pelo próprio marido, em uma espécie de retiro terapêutico em um quarto revestido por um obscuro e assustador papel de parede amarelo. Por anos, desde a sua publicação, o livro foi considerado um assustador conto de terror, com diversas adaptações para o cinema, a última em 2012. No entanto, devido a trajetória da autora e a novas releitura, é hoje considerado um relato pungente sobre o processo de enlouquecimento de uma mulher devido à maneira infantilizada e machista com que era tratada pela família e pela sociedade.
Vamos falar sobre feminismo?
O Papel de Parede Amarelo é um conto que passa por assuntos como o papel da mulher na sociedade, opressão sexual e submissão, doenças mentais e, por consequência, tornou-se uma bandeira feminista.
Com tudo isso, você acharia que o livro foi escrito há quanto tempo? Nessa década? Há uns 10, 20 anos, no máximo? E se eu te dissesse que o livro foi lançado pela primeira vez há 124 anos? Sim, um livro tão atual foi escrito mais de um século atrás (eu fiz as contas).
Basicamente, o conto contempla a visão de uma mulher sobre uma doença não especificada, mas geralmente referida como sua própria depressão, enquanto passa três meses “internada” em uma casa de campo alugada com seu marido, sua cunhada e sua filha. Durante o tempo que passa sozinha, ela é obrigada a ficar em um quarto — originalmente infantil — e obedecer a cada ordem de John, o médico com quem se casou.
A narradora, em 1ª pessoa, transmite seus pensamentos ao longo desses três meses por escrito; não sabemos onde escreve, mas a impressão é de que seria em um diário — só sabemos que escreve em segredo, pois tanto o marido quanto a irmã dele proibiram-na de praticar qualquer esforço físico, apesar de todas as vezes em que tenta argumentar que isso poderia lhe fazer bem.
Sem nada para fazer, a única coisa que lhe chama atenção é o terrível papel de parede do quarto: com um padrão aparentemente indecifrável e um tom amarelo horrível, ela relata o desgosto de olhar para ele sob qualquer circunstância, lembrando também como odiava estar naquele quarto.
Tentando entender melhor, li a respeito do contexto em que o livro foi escrito e, depois de saber mais sobre Charlotte Gilman, não pude deixar de reparar as “indiretas” da autora. Segundo ela, o conto tinha como um dos alvos o médico que tratou de sua depressão; é relatado que ele lidou com a situação como algo que passaria com descanso, receitando apenas "muito repouso".
Uma teoria presente na apresentação à edição, escrita pela artista plástica e professora Marcia Tiburi, explica que a personagem de John representa não só o marido opressivo, mas a racionalidade médica: John não acredita em fé, em nada que não seja científico e muito menos em doenças mentais. A personagem principal, então, apenas aceita.
Se um médico de renome, que vem a ser seu próprio marido, assegura aos amigos que não se passa nada de grave, que se trata apenas de uma depressão nervosa passageira — uma ligeira propensão à histeria —, o que se pode fazer? P. 12
A tentativa frustrada de enfrentar essa opinião fica bem evidente em um trecho no qual a narradora tenta convence-lo de que seria melhor ir embora, ao que ele discorda, dizendo que ela está visivelmente melhor:
“Talvez fisicamente...”, comecei, mas logo me interrompi, porque ele se endireitou e lançou-me um olhar tão severo e repreensivo que não pude dizer mais uma palavra sequer. P. 41
Gilman, então, não mediu esforços para mostrar como era o verdadeiro terror de se ter uma doença mental, algo não levado a sério na época em que esteve doente. Pouco a pouco, a personagem principal deixa de falar da maneira comum a senhoras do século XIX e passa a se expressar de uma maneira muito mais verdadeira e menos civilizada, exprimindo sua real opinião sobre cada um presente na casa, até chegar a um estado que, segundo várias interpretações (como a minha mesma), seria a loucura de uma mulher que acabou de se libertar de sua opressão e agora vê o mundo sem amarras.
Agora, vamos ao título: o que é que tem de tão interessante nesse tal papel de parede? No começo, era somente algo que a personagem julgava ser feio. Passa a ser um incômodo, depois um enigma a ser resolvido, vira sua obsessão e, ao que eu interpretei, sua libertação.
Aprisionada no detestável quarto — cuja cama é presa ao chão — e privada de quaisquer atividades prazerosas, a narradora presta tanta atenção ao papel que começa a ver desenhos no padrão. O problema é que não são desenhos comuns: seja por meio de devaneios ou até pela metáfora da autora, a personagem vê uma mulher presa atrás de barras; uma mulher que rasteja e tenta se libertar, mas que não escapa facilmente. Logo, são várias mulheres, que de dia parecem calmas, mas à noite sacodem as grades do papel. E é aí que está, pra mim, a chave do conto inteiro.
A narradora — que julgo não ter nome justamente por representar as mulheres em geral — percebe a opressão que vive, a maneira como precisa ser submissa e aceitar as opiniões médicas de seu marido, nas paredes claustrofóbicas de um quarto monótono. Com essa descoberta, ela tenta se libertar, sendo tão adversa às normas de seu tempo que poderia ser considerada uma louca. Ela percebe a importância de “quebrar” suas paredes sozinha, tornando-se livre da prisão que é a sociedade em que vive, com padrões que lhe são impostos sem nem perceber.
Esse não é um conto de ação, mas a maneira gradual com que as revelações da narradora são feitas dá uma sensação de agonia; é uma gradação que começa a aumentar e aumentar, e você quer saber o que tudo significa e no que vai dar.
É muito simples e direto, mas é incrível a quantidade de reflexões possíveis ao ler algo tão curto. A transmissão dos sentimentos da autora para a narradora é tão franca e crível que o livro não poderia ser melhor.
É preciso ter em mente que nem todas essas conclusões serão óbvias — eu consultei o Google e li várias interpretações até chegar nas minhas —, mas não deixe o conto de lado: ele fala tanto com tão poucas páginas que acredito que todos deveriam ler.
O que achei legal nesse livro é a forma tão atual que ele parece ter e ainda assim ter sido escrito há tanto tempo atrás! Parece um livro muito bom, gostei da trama e a narrativa parece ser das boas. É daqueles que você pega e gosta do que lê, tanto que é difícil parar. Por ser tão real, falar de assuntos que fazem você pensar. Gostei dele.
ResponderExcluirGente, que pesado!
ResponderExcluirÉ preciso ter força para ler esse conto. Não sei se eu conseguiria sem me deprimir com a história.
Muito triste!
E é pior ainda saber que a própria autora usou suas experiências para isso.
Por coincidência li essa semana uma matéria sobre a luta antimanicomial, focada tanto em homens quanto mulheres, e vi como é triste a vida das pessoas que não recebem o tratamento correto.
:(
Beijoos
www.casosacasoselivros.com
Olá!
ResponderExcluirÉ a quarta resenha que leio sobre essa obra, mas considero – até o momento – a melhor delas. As anteriores já haviam me convencido a ler essa obra, por sua relevância para o entendimento do papel feminino na sociedade e no relacionamento. Mas a sua resenha me fez notar outras peculiaridades na narrativa da autora que merecem crédito. Parabéns! Eu pretendo ler a obra assim que possível. Aliás, ouso dizer que todas as pessoas deveriam lê-la.
Beijos!
www.myqueenside.com.br
Uau! Apesar de ser um conto, esse livro passa muitas reflexões.
ResponderExcluirAcredito que não é leitura pra qualquer um não e é preciso estar preparado pra esse tipo de leitura.
É muito triste ler o que essa mulher tem que passar. Ter que aceitar calada tudo o que é imposto pelo marido. Mas o melhor de tudo é a sua força pra tentar se libertar dessa opressão.
Um livro que há pricípio foi lançado a tantos anos... e mesmo nos dias atuais ainda existe esse tipo de relacionamento. É simplesmente lamentável.
Gostei da proposta do livro e mesmo sendo uma leitura forte adoraria lê-lo.
Bjos!
Acho que essa resenha foi a mais completa que li até agora sobre esse livro.
ResponderExcluirE eu quero muito lê-lo, justamente por mostrar relatos de uma mulher que vivia em uma época na qual a única coisa que devia ao homem era submissão, e que infelizmente não é muito diferente dos dias de hoje (é claro que tivemos muitas conquistas, mas ainda temos muito mais pela frente). Gostei muito da sua interpretação sobre o papel de parede amarelo, e não vejo a hora de lê-lo para poder tirar as minhas. Amei a resenha, beijo!
É diferente, vc tem raiva do marido como também não tem, pois não só foi ele,a sociedade não compreender o estado da mulher,que naquela época era comum não levar a sério os problemas psicológicos,mentais.As mulheres eram oprimidas, desigualdade entre os sexos, o machismo,leva-se em conta na história, pois foi o que aconteceu com a pobre mulher ser oprimida não ter sido considerada.O irônico nessa história era que a mulher achava que sua liberdade estava atrás daquele papel de parede.
ResponderExcluirOlá!
ResponderExcluirNossa, o livro parece ser bem intenso. Não conhecia a história, porém me impressionei, devido a época em que foi escrito. Gostei da premissa, da sinopse e da sua resenha, e pretendo ler esse livro em breve (é bem curtinho!).
Beijos.
Ooi!
ResponderExcluirJá ouvi falar uma ou duas vezes sobre esse livro mas essa é a primeira resenha que li e só por ela deu pra sentir a angústia que a personagem passa em ter que enfretar todo esse problema, parece ser bem interessante.Adoraria ler. Bjs xx
Oi :)
ResponderExcluirAchei muito interessante a estória do livro, pois doenças psicológicas é um assunto que me interessa bastante e com certeza O Papel de Parede Amarelo vai me marcar para sempre quando eu for ler pois parece ser bem intenso.
Beijos.
Que forte, Bel.
ResponderExcluirNunca li nada do tipo, ainda mais um drama psicológico. Tô assimilando sua resenha ainda.
Sempre gostei de ler clássicos e descobrir esse livro foi uma surpresa maravilhosa, achei o tema do livro bem delicado ainda mais na época em que foi escrito, sendo que a independencia da mulher não era bem vista naquela época.
ResponderExcluirGostei do conjunto de temas abordados,o papel da mulher na sociedade,doenças mentais,opressão sexual e submissão,dá pra fazer uma boa reflexão ao interliga-los.
ResponderExcluirTrazer fatos da vida da autora,Charlotte Gilman,e ver como isso pode ser encontrado na obra é interessante,gostei disso na resenha.
Fiquei com vontade de ler.
Julgando pela capa e pelo título eu não imaginaria que se trataria de uma história como esta. Esses livros onde ocorrem pressão psicológica sempre me deixam muito nervosa e envolvida com a história. Não sou muito de ler clássicos, mas esse me chamou a atenção por se tratar do início do feminismo. Quero muito saber como isso começou e que fim teve essa história. Tenho certeza que esse livro vai me fazer odiar o marido dela, na verdade, já estou odiando. Não dava nada pelo livro mas agora estou morrendo de vontade de lê-lo.
ResponderExcluirO movimento feminista é muito legal na ideologia, infelizmente na vida real não é bem assim. Nao quero ficar aqui falando sobre tudo, vou so dizer que nao me interessei, nao quero ler. (Essa é MINHA opinião)
ResponderExcluireu não conhecia esse conto
ResponderExcluire acho q além de falar da questão da mulher e liberdade ainda apresenta como certos tipos de doenças era "tratados" e vamos ser sinceros(as) se uma pessoa não tem problemas depois de um mês trancado em um quarto olhando para um papel de parede amarelo ela fica doida.
assim q tiver oportunidade eu vou ler, obrigada pela indicação
Nunca tinha visto nada desse livro, e achei assustador pela moça ficar internada no manicômio , por ser uma história real me desinteressou, porque o final geralmente é morte, e por isso não pretendo ler :/
ResponderExcluirOi!
ResponderExcluirConheci esse livro recentemente e realmente não imaginava que já se fazia seculos de seu lançamento, pois com certeza foi um marco para época, achei bem interessante os temas que a autora aborda no livro pois até hoje são temas bem atuais e fiquei curiosa para poder ler esse livro !!